Processo Estratégico
Imprevisibilidade
Corpo de Bombeiros Militar
Área
Estratégia em Organizações
Tema
Processo Estratégico nas Organizações
Autores
Nome
1 - Arthur Silva Santos UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - Programa de Pós Graduação em Administração
2 - Lucilaine Pascuci UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - Programa de Pos Graduação (Mestrado e Doutorado) em Administração
Reumo
São diversas as características evidenciadas na literatura que destacam a complexidade das organizações públicas. Destaca-se, o fato destas organizações lidarem com questões contraditórias de diferentes grupos da sociedade, o fator político, a burocracia excessiva, a pluralidade e multiplicidade de atores, a natureza social do serviço prestado, a escassez de recursos versus constante cobrança por melhor qualidade dos serviços prestados. Em organizações com estas características - por exemplo, o Corpo de Bombeiros Militar - a transformação de intenções em ações representa um grande desafio.
O presente estudo teve por finalidade identificar quais os aspectos influenciam no alinhamento – ou desalinhamento – entre decisão, ação e resultados, tendo como foco de pesquisa um contexto pluralista e complexo, uma Corporação do Corpo de Bombeiros. Dessa forma, destaca-se o seguinte problema de pesquisa: quais aspectos influenciam no (de)salinhamento entre decisão, ação e resultados?
Starbuck (1983) destacou haver uma brecha entre decisão, ação e resultados. A tomada de decisão, nesse sentido, foge a suposição de sequencialidade entre os meio e fim. As decisões podem se materializar em ações de diferentes formas – por meio de decisões estratégicas formais e informais e a não decisão, por exemplo. As ações podem emergir no cotidiano das organizações, sem que exista algo decidido ou definido (STARBUCK, 1983). Portanto, segundo o mesmo autor, nem sempre há uma relação clara entre decisão, ação e resultado, e na prática, os gestores fazem coisas muito diferentes do discurso.
Esta pesquisa é de natureza qualitativa e descritiva, tratando-se de um estudo de caso único e ex-post-facto. O nível de análise foi o organizacional e a unidade de análise, a percepção dos agentes organizacionais participantes do processo decisório e implementação das ações dele decorrentes. O caso empírico foco de investigação uma Corporação do Corpo de Bombeiros Militar de um estado da região Sudeste do Brasil. A pesquisa fez uso de dados primários e secundários – entrevistas em profundidade e documentos. Os dados foram tratados por meio de análise de narrativa com foco no significado.
Considerando as decisões analisadas, quase em sua totalidade, não foi identificado alinhamento entre decisão, ação e resultados. Em geral, as ações implementadas representaram, muito mais, respostas as situações inesperadas e demandas não rotineiras. Como justificativa, identificou-se que a maioria das limitações são impostas pelo próprio contexto da organização. Ou seja, decorrentes de limitações de recursos do Estado e do relacionamento com outros órgãos públicos e atores articulados que, com frequência, alocam prioridades e interesses aumentando a imprevisibilidade do contexto.
As peculiaridades do setor público alavancam a complexidade do contexto de atuação da corporação, haja vista o compartilhamento de poder, envolvimento de diversos atores, o forte aspecto político e a especificidade do serviço prestado. As características como a alta especialização dos profissionais, os preceitos da hierarquia militar associados com a burocracia inerente ao setor público são desafios significativos à linearidade entre decisões e ações. Por isso, práticas de gestão de origem mercadológica necessitam sofrer adequações substantivas visando sua adequação a contextos complexos.
RAINEY, H.; RONQUILLO, J.; AVELLANEDA, C. Decison making in public organizations. In: NUTT, P. C.; WILSON, D. C. (Eds.) Handbook of decision making. Wiltshire: John Wiley, 2010. p. 349-379.
STACEY, R.; GRIFFIN, D. Complexity and the experience of managing in public sector organizations. New York: Routledge Taylor & Francis Group, 2006.
STACEY, R. Complexity and creativity in organizations. San Francisco: Berret-Koehler, 1996.
STARBUCK, W. H. Organizations as Action Generators. American Sociological Review, v.48, n. 1, p. 91, 1983.