Resumo

Os desafios no setor de saúde se ampliaram significativamente, devido a fatores como o aumento dos custos, a expansão das demandas do mercado, os avanços tecnológicos e a crescente insatisfação da clientela (Jamali et al., 2010). Num esforço para se manter competitivas, as empresas de saúde vêm adotando sérias medidas para melhorar o desempenho (Wickramasinghe, 2008). Assim, as empresas do segmento vêm implementando estratégias de responsabilidade social corporativa e governança corporativa para atender às expectativas da sociedade, em consonância com a Teoria da Legitimidade.

Tanto a responsabilidade social corporativa como a governança corporativa impactam o desempenho empresarial (Brooks & Oikonomou, 2018; Ntim & Soobaroyen, 2013) e contribuem para a legitimidade da empresa. Diante do exposto, e considerando a relevância desses fatores também no setor de saúde, o presente estudo tem por objetivo principal de identificar o efeito da responsabilidade social corporativa e da governança corporativa no desempenho empresarial nesse importante segmento.

Poucos estudiosos examinaram o alinhamento entre a reponsabilidade social e a governança corporativa (Money & Schepers, 2007) e como esses fatores impactam o valor e o desempenho da empresa (Aboud & Diab, 2018; Li, Gong, Zhang, & Koh, 2018), em especial no setor de saúde. Com base na revisão de literatura, espera-se uma relação positiva entre a governança corporativa e a responsabilidade social corporativa, e supõe-se que quanto maior for o nível de adoção de melhores práticas de responsabilidade social e de governança na empresa do setor de saúde, maior será o seu desempenho.

Por meio de regressão quantílica com dados em painel, além de análise descritiva e de correlação, foram analisados dados de 453 empresas de 31 países, referentes ao período de 2010 a 2018 (1.825 observações). Foram utilizados os indicadores ESG, da Thomson Reuters Eikon, que mensuram as práticas de responsabilidade ambiental e social e de governança corporativa. O desempenho empresarial é mensurado pelo Return On Assets (ROA) e pelo Q de Tobin adaptado, conforme Buallay (2019). Foram também utilizados dois conjuntos de variáveis de controle, considerando-se os contextos empresa e país.

Os resultados demonstraram que a responsabilidade social corporativa e a governança corporativa são positivamente relacionadas e responsáveis pela legitimação da empresa. Observou-se que, por seu turno, os pilares ambiental, social e de governança são positivamente relacionados com o desempenho empresarial de mercado (Q de Tobin), sendo encontrado um resultado inverso quanto ao desempenho empresarial operacional (ROA). Considerando-se o efeito conjunto da responsabilidade social corporativa com a governança corporativa, mensurado pelo escore ESG, observa-se o mesmo comportamento.

Conclui-se que há uma relação positiva entre a responsabilidade social corporativa e a governança corporativa e que as práticas ambientais, sociais e de governança corporativa são relevantes para a legitimação das empresas do setor de saúde apenas na perspectiva da criação de valor. Portanto, considerando-se a alta relevância social e econômica do segmento, e fundamentando-se na Teoria da Legitimidade, tem-se que, para se perpetuar no mercado, a empresa do setor de saúde deve buscar melhorias ou implementar práticas de responsabilidade social corporativa e de governança corporativa.

Brooks, C., & Oikonomou, I. (2018). The effects of environmental, social and governance disclosures and performance on firm value: a review of the literature in accounting and finance. The British Accounting Review, 50(1), 1-15. Jamali, D., Hallal, M., & Abdallah, H. (2010). Corporate governance and corporate social responsibility: evidence from the healthcare sector. Corporate Governance: The International Journal of Business in Society, 10(5), 590-602. Wickramasinghe, N. (Ed.). (2008). Encyclopedia of healthcare information systems. New York: IGI Global.