Resumo

Título do Artigo

MUDANÇA DE PAPÉIS NA RESPOSTA AO EVENTO TRAUMÁTICO OCORRIDO NO MUSEU NACIONAL
Abrir Arquivo

Palavras Chave

Resiliência
Modulação de Papeis
Eventos Traumáticos

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Abordagens e Teorias organizacionais Contemporâneas

Autores

Nome
1 - Gislaine Aparecida Santana Sediyama
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV) - Departamento de Administração e Contabilidade
2 - André Carlos Busanelli de Aquino
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - FEARP

Reumo

A resiliência organizacional trata a organização como um bloco, que ao ser sujeita à um choque traumático, responderia de forma coletivamente sincronizada à trajetória de vulnerabilidade exógena ou endógena, decorrente de fragilidades que se desenvolvem gradativamente em determinados setores da organização e que acumulam com o tempo, as chamadas creepinp strains. Em certas condições a própria dinâmica da organização não é propícia à reverter a situação, necessitando de agentes externos para atuarem no alerta e alteração da trajetória de vulnerabilidades que podem conduzir a eventos traumáticos
Um ator com poder de influenciar o campo organizacional pode assumir diferentes níveis de agency, dependendo do papel que ele ocupa neste campo e da legitimidade a ele conferida. Assim, questiona-se: como atores externos podem afetar o tipo de resposta que é dado pelas organizações na ocorrência de eventos traumáticos? Usamos o caso do incêndio do Museu Nacional para mostrar como ocorre a mudança de agency da Procuradora da República, a fim de identificar como ela obtém legitimidade com o evento traumático “incêndio” e o utiliza para descolar do baixo padrão de agency do MPF no caso.
Dentro de uma organização, o papel assumido por um indivíduo se acopla a uma estrutura de rotinas interligadas, que tem uma identidade ou intencionalidade coletiva, fazendo com que este indivíduo se module às fronteiras da organização. Contudo, indivíduos exercem múltiplos papéis que os permite adotar módulos de ações distintas, ou seja, exercer diferentes tipos agency em ambientes diferenciados, e seguir uma intencionalidade individual ou coletiva, quando dada pelos valores ou estratégias cristalizados naquela organização. O que influenciaria as respostas resilientes a eventos traumáticos.
Conjugou-se o método documentário com a abordagem interpretativa de “suspicious interpretation” para analisar a entrevista dada pela procuradora do MPF em setembro de 2018. Pautada na técnica de “roug transcription”, considerou-se as palavras faladas (componentes verbais), o modo como elas foram faladas (componente prosódico) e comportamento não verbal que acompanha as palavras (componente paralinguístico). A análise trata da ‘procuradora’ como agente de poder em papel de regulação no campo e o ‘MPF’ como a organização que institucionalizou a forma de lidar com o creeping strains em museus.
Antes do incêndio, a procuradora assumiu uma agency mais iterativa cuja a fonte era a própria conduta coletiva em relação à questão. A procuradora demandava pouca legitimidade para atuar neste padrão, pois estava alinhada com o MPF, portanto assimilava a legitimidade do próprio órgão. Após o evento a procuradora se legitima na comoção social e descola seu entendimento do MPF, despertando para necessidade de atuação mais proativa, uma agency prática-avaliativa para dar uma solução de curto prazo à situação. Assim a fonte de sua agency deixa de ser o MPF e para ser sua própria identidade.
O incêndio permitiu que a procuradora modulasse seu papel social para adquirir legitimidade social individual e descolar seu papel de procuradora da república (eu) do papel de membro do MPF (nós). Assim, chama atenção para o possível desenvolvimento de creeping strains em outros museus e revela que respostas resilientes não dependem só da construção de sentido interno na organização afetada pelo choque, mas da capacidade de indivíduos influentes exercerem um papel que não era possível para antes da ocorrência de um evento traumático, que fosse capaz de lhe legitimar como agente transformativo.
Abdelnour, S., Hasselbladh, H. & Kallinikos, J. (2017). Agency and Institutions in Organizational Studies. Organizacional Studies, 38(12), 1775–1792. Emirbayer, M. & Mische, A. (1998). What is Agency? American Journal of Sociology, 103 (4), 962–1023. Khan, W. A., Barton, M. A, Fisher, C. M., Heaphy, E.D., Reid, E. M. & Rouse, E. D. (2018). The Geography of Strain: Organizational Resilience as a Function of Intergroup Relations. Academy of Management Review, 43(3), 509-529.