Resumo

Desde o surgimento dos modos contemporâneos de produção, a sociedade ocidental vem se transformando constantemente e um dos motivos para esta alteração permanente de forma é o enfrentamento de suas próprias contradições. As alterações dos processos e as Relações de Trabalho estão sendo estudadas pela Administração e suas peculiaridades em cada época têm características que refletem o espírito do seu tempo. Hoje, a virtualização dos dados, o rearranjo dos vínculos de trabalho (como a colaboração) e o papel do humano na organização são temas centrais nos meios acadêmicos e empresariais.

Compreender de que forma os componentes de um fenômeno contemporâneo do trabalho, denominado Economia Colaborativa, entendem suas relações com o trabalho e a própria colaboração, por meio da análise cultural das manifestações mediadas por computador de uma comunidade colaborativa de Porto Alegre – RS. A questão problema tem relação com “o que” e “como” os trabalhadores colaborativos entendem o seu próprio trabalho. Quais são as representações que estes trabalhadores elaboram a partir do seu próprio discurso?

O conceito de cultura está ligado a uma teia de significados e suas análises, ou seja, um movimento afastado dos métodos experimentais positivos e aproximado do interpretativismo (GEERTZ, 2008). Quanto às Relações de Trabalho, (SANTOS E HELAL, 2016) este artigo propõem estas são reflexos da realidade de cada época e advêm do real. Por Economia Colaborativa, esta é uma atitude coletiva de compartilhamento de conhecimento e principalmente pelo espírito relacional das pessoas que trabalham em espaços colaborativos (VIEIRA; ANTUNES, 2018).

A netnografia é incluída nos métodos de epistemologia interpretativista, mas que que ainda exigem estudos mais aprofundados e uma maior reflexão teórica sobre seu campo de atuação, o que não é um problema em si, e sim mais uma possibilidade de pesquisa aberta. Em termos de avanço metodológico, a netnografia está inserida nos conceitos de totalidade dos espaços digitais de Castells (1999). Os netnógrafos precisam incorporar a internet e seus aparatos nas pesquisas para entender adequadamente a vida social na sociedade contemporânea.

É importante destacar, pelas observações netnográficas, a identificação de Relações de Trabalho atípicas, em contraposição às empresas privadas. São elas: a comunicação não violenta, a docilidade e o gerenciamento híbrido. Desta forma, é possível depreender que uma nova relação com horários, subordinação e demais obrigações do trabalho formal e mesmo de iniciativas não formais como o trabalho voluntário, informal e o empreendedorismo, é compartilhada pelos membros da comunidade como uma prática cotidiana e que faz parte das relações de trabalho dos colaboracionistas

De forma geral, nesta netnografia houve um primeiro exercício de busca de compreensão e análise de como uma comunidade de Economia Colaborativa de Porto Alegre. Neste artigo foi possível identificar as Relações de Trabalho (LIEDKE, 2002) sui generis nas mensagens eletrônicas analisadas apontam para uma forma não violenta de interação e gestão do empreendimento entre os colaboracionistas. Estes fatores, a meu ver, podem auxiliar a compreender as Relações de Trabalho entre os colaboracionistas e sua própria concepção de colaboração, em especial nesta comunidade em Porto Alegre.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. LIEDKE, E. R. Trabalho. In A. D. Cattani& L. Holzmann (Orgs.). Dicionário de trabalho e tecnologia. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 2006. SANTOS, Elisabeth Cavalcante; HELAL, Diogo Henrique. Relações de Trabalho e Práticas: Aproximações Teóricas. In: ANPAD. Belo Horizonte/MG: 2016. VIEIRA, Carlos Roberto Santos; ANTUNES, Elaine di Diego. O trabalho nas Economias Colaborativas: a precarização e o discurso da Glamourização. V Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais. Curitiba-PR – Brasil. 2018