Resumo

Título do Artigo

ENTRE A TRAGÉDIA E O CRIME: narrativas sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais
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Palavras Chave

Crime Corporativo
Responsabilidade Social Empresarial
Brumadinho

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - Marcella Barbosa Miranda Teixeira
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Programa de Pós-Graduação em Administração
2 - Thiara Martins Rodrigues
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Programa de Pós-Graduação em Administração
3 - Iamila Maria Prado Resende
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Coração Eucarístico
4 - Altair Bessoni
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Coração Eucarístico
5 - Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Programa de Pós-Graduação em Administração

Reumo

Os crimes corporativos são geralmente comunicados como acidentes, tragédias ou fatalidades (Medeiros & Alcadipani, 2013). Essa classificação se dá pelo poder e influência das grandes organizações em todas as áreas da sociedade. Com isso, as tragédias-crimes acabam sendo divulgadas como exceção faze ao suposto padrão de excelência operacional dessas corporações, o que acaba por paradoxalmente divulgar e reforçar os aspectos positivos dessas organizações (Medeiros & Alcadipani, 2013; Saraiva & Ferreira, 2018), além da narrativa da relação de dependência da sociedade com essas organizações.
O objetivo deste artigo é analisar como foram construídas narrativas pela Vale, Governo de Minas Gerais e a comunidade atingida sobre o rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão da mineradora em Brumadinho, Minas Gerais, que ocorreu no dia 25 de janeiro de 2019. A pergunta de pesquisa que orienta o estudo é: Como foram reportadas as percepções da Vale, do governo de Minas Gerais e da comunidade de Brumadinho diante do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão?
Como abordagem teórica, este estudo é orientado pelos conceitos de responsabilidade social empresarial, recorrendo à uma abordagem crítica, desenvolvida por Devinney (2009), Barnejee (2014; 2017), Souza et al. (2017) e Fontoura et al. (2019), e de crime corporativo, conceituado principalmente por Medeiros (2013), Medeiros e Alcadipani (2013) e Borges e Medeiros (2014).
Adotou-se a pesquisa qualitativa, por meio da análise interpretativista das narrativas divulgadas pelo sítio eletrônico da empresa e o governo, rede sociais e entrevistas e depoimentos dos atores da comunidade, do Estado e da empresa.
Como resultado, percebeu-se a diferença entre as narrativas do Governador de Minas e do prefeito de Brumadinho, empresa Vale e a Comunidade, sendo que apenas a última classifica o ocorrido como crime. Além disso, percebe-se uma mudança nas narrativas do Governador de Minas e do prefeito de Brumadinho no sentido de legitimar a dependência do estado em relação à empresa e à atividade de mineração.
Percebe-se que as narrativas sobre o rompimento da barragem não convergem, pelo contrário, denotam disputas e lutas sociopolíticas e ambientais. Denominar o acontecimento como tragédia, crime, acidente ou desastre, dessa forma, não é mera operação semântica e despretensiosa, mas uma construção discursiva ligada às relações de poder e dominação que envolvem, muitos antes do rompimento da barragem em Brumadinho, as interações entre comunidades, sociedade e opinião pública, Estado, empresas e corporações mineradoras e movimentos sociais e ambientais no estado de Minas Gerais, no Brasil.
Medeiros, C. R. O. (2013). Crimes Corporativos Contra a Vida e Necrocorporações. Tese (Doutorado em Administração) – Escola de Administração de Empresas. Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, SP, Brasil. Medeiros, C. R. O., & Alcadipani, R. (2013). Crimes Corporativos Contra a Vida e Necrocorporações. In: XXXVII Encontro da ANPAD. Anais. 2013. Recuperado de: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2013_EnANPAD_EOR908.pdf. Acesso em: 25 Mai. 2019. Saraiva, C. M., & Ferreira, P. T. M. (2018). A Lama da Samarco e o Crime Corporativo: uma reflexão necessária. Administração Pública e Gestão Social, 9(2).