Resumo

Título do Artigo

“ELES TÃO PEGANDO QUALQUER COISA PRA MATAR A FOME”: Representações discursivas dos empregadores sobre os trabalhadores migrantes
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Palavras Chave

Representações Discursivas
Empregadores
Trabalhadores Migrantes

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Camila Veloso Antunes
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Coração Eucarístico
2 - Antonio Carvalho Neto
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - PPGA
3 - Erica Cristina Pereira Lima de Souza
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUC MINAS) - Coração Eucarístico

Reumo

As questões referentes à migração, relações étnicas e desigualdade racial aumentaram o interesse dos estudiosos acerca do racismo (incluindo antissemitismo, xenofobia, etc.) e problemas relacionados, inclusive na Análise Crítica do Discurso (ACD). No Brasil, entretanto, poucas pesquisas foram realizadas. Na literatura brasileira em administração, embora muitos estudos utilizem o enfoque teórico-metodológico da ACD, uma busca no SPELL (Scientific Periodicals Eletronic Library) por pesquisas que vinculam ACD e Imigração não revelou resultados. Busca-se, assim, amenizar essa lacuna.
Pesquisas sugerem que, em geral, os discursos acerca dos imigrantes revelam representações negativas e estereotipadas. Evidentemente, estes discursos fazem mais do que representar estes atores sociais. Claramente existe um aspecto da representação, mas sobretudo existe um elemento de construção e reprodução de determinadas relações e condições sociais (Kress, 1990). A fim de ampliar a discussão, este trabalho tem como objetivo analisar as representações discursivas dos empregadores sobre os trabalhadores migrantes inseridos no mercado de trabalho formal brasileiro em relação ao racismo.
Segundo Van Dijk (2000a), a ideologia racista pode apresentar as seguintes categorias relacionadas: i) dispositivos de afiliação por cor, raça ou nacionalidade; ii) atividades que envolvem discursos negativos sobre minorias, discriminação, diferenciação, exclusão, inferiorização etc.; iii) objetivos de manter os grupos étnicos minoritários em posição de inferioridade ou fora do endogrupo; iv) valores que estabelecem prioridades para o próprio grupo; v) posições de superioridade e domínio sobre os outros; e vi) distribuição e utilização de recursos de território, nação ou recursos sociais.
O objetivo primordial é a descrição das características de um fenômeno, tratando-se, portanto, de uma pesquisa descritiva. A abordagem qualitativa foi adotada, por ser mais indicada quando o estudo é de caráter descritivo e busca o entendimento de um fenômeno complexo (Eisenhardt, 1989). O método adotado foi o estudo de caso único por ter sido investigado um grupo de empregadores. A amostra foi composta por 12 empregadores, com idade média de 40 anos, residentes em MG, SP e RS. A análise dos dados se limitou ao conteúdo discursivo, mais especificamente aos significados locais.
Em geral, os trabalhadores migrantes são representados como: i) comprometidos, por meio de uma polarização entre os trabalhadores migrantes e brasileiros. Essa representação é expressa em termos de uma subordinação passiva dos trabalhadores migrantes às regras e exigências de trabalho, revelando uma intensificação de determinadas práticas de dominação e exploração econômica dessa força de trabalho; ii) vulneráveis e susceptíveis a acatar quaisquer exigências e demandas de trabalho em decorrência dessa condição; e iii) destinados a realizar trabalhos mais básicos e pesados.
As representações discursivas encontradas e as práticas sociais que estabelecem, fortalecem posições de superioridade e dominação dos empregadores em relação aos trabalhadores migrantes, subordinando-os às normas e exigências do trabalho com o objetivo de atender aos seus próprios interesses. Além disso, tais representações envolvem diferenciação e inferiorização dos migrantes trabalhadores, por meio de estereótipos profundamente negativos. Por esses motivos, é possível afirmar que a ideologia racista é claramente expressa e reproduzida por meio do discurso dos empregadores entrevistados.
Kress, G. (1990). Critical discourse analysis. Annual Review of Applied Linguistics, 11, 84-99. Siebers, H., & Dennissen, M. H. (2015). Is it cultural racism? Discursive exclusion and oppression of migrants in the Netherlands. Current Sociology, 63(3), 470-489 Van Dijk, T. (1999). Discourse and racism. Discourse & Society, 10(2), 147–148. Van Dijk, T. (2000a). Ideologies, racism, discourse: Debates on immigration and ethnic issues. Comparative Perspectives on Racism, 91-116. Van Dijk, T. (2000b). New(s) racism: A discourse analytical approach. Ethnic Minorities and the Media, 37, 33-49.