Resumo

Título do Artigo

O Cuidado Institucional e Relacional em Organizações da Sociedade Civil de Proteção a Gestantes e Bebês
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Palavras Chave

Ética do cuidado
Organizações da sociedade civil
gestantes

Área

Administração Pública

Tema

Gestão Social e Organizações do Terceiro Setor

Autores

Nome
1 - Maria Clara Figueiredo Dalla Costa Ames
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC) - ESAG - Escola Superior de Administração e Gerência - Florianópolis (SC)
2 - Mauricio Serafim
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC) - Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas

Reumo

A ética do cuidado é uma vertente da ética normativa geralmente abordada em medicina, bioética e, mais recentemente, como um aspecto importante em políticas públicas (Stensöta, 2015). Discutido inicialmente nas relações interpessoais, o cuidado também permeia práticas institucionais (Tronto, 2010) e da sociedade civil (Held, 2006). Algumas organizações de base voluntária procuram dar suporte à gestantes carentes por meio de processos de cuidado durante a fase gestacional, os quais buscamos compreender a partir de elementos teóricos do processo e das relações de cuidado.
O cuidado realizado em organizações da sociedade civil a partir da ação de voluntários que atuam na e para a proteção de gestantes e bebês é um fenômeno pouco explorado empiricamente e que pode dar pistas de como o cuidado pode ser aprendido No entanto, do ponto de vista da ética do cuidado, pouco se sabe sobre as relações e o processo do cuidado em organizações de apoio ou suporte à gestantes. Este artigo busca compreender o cuidado em organizações que ajudam e protegem gestantes e bebês em comunidades carentes, por meio de um estudo de casos múltiplos no contexto da cidade de Florianópolis.
O artigo se fundamenta em um arcabouço teórico que articula a perspectiva da ética do cuidado com estudos de organizações que atuam na proteção de gestantes e bebês ou no apoio à gestação. A ética do cuidado é uma perspectiva da ética normativa desenvolvida especialmente com as contribuições de Gilligan (1997) e Noddings (1984) no campo de estudos do julgamento moral, bem como no cuidado enquanto processo presente em instituições (Fischer & Tronto, 1990; Tronto, 2010). Os elementos do processo de cuidado - cuidado relacional e cuidado institucional - são explorados a partir de seus elementos.
Adotamos uma estratégia de estudo de casos múltiplos de abordagem qualitativa, exploratória e descritiva, para discutir neste artigo o caso de duas organizações de proteção e apoio às gestantes que atuam no contexto de Florianópolis (SC). O acesso ao campo em caráter exploratório se realizou entre fevereiro e junho de 2018, por meio de observação participante, utilização de cadernos de campo e entrevistas semiestruturadas realizados com voluntárias e gestantes. A análise documental também foi empregada. Procuramos seguir a análise de conteúdo, para interpretar dos dados (Bardin, 2002).
A análise dos elementos organizacionais e relacionais de cuidado entre gestantes e voluntárias foi conduzida ao se considerar os processos de “reconhecer a necessidade de cuidado”, “cuidar por”, “cuidar de” e “receber cuidado”. Este último, em nossa análise, é o que mais precisa ser aprimorado nas organizações. Características como o posicionamento religioso e o propósito são significativos na atividade de ambas as organizações, especialmente na busca de uma abordagem mais pluralista de cuidado. A análise discute diferentes formas de cuidado, considerando o processo de dar e receber cuidado.
A consistência e periodicidade nas práticas de cuidado são importantes para manter a participação das gestantes ao longo da gestação, bem como o reconhecimento da ajuda voluntária como exemplo de serviço na comunidade e prática de cuidado nas relações pessoais. Acompanhamos práticas, questões de responsabilidade e dilemas envolvidos no cuidado e percebemos que as voluntárias aprendem a cuidar na prática. Sugerimos que as iniciativas criem formas para ouvir e permitir a participação das gestantes. Futuras pesquisas podem se aprofundar nas razões morais para ações voluntárias de cuidado.
Gilligan, C. (1997). Teoria psicológica e desenvolvimento da mulher. Natércia Rocha (Trans.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Held, V. (2006). The Ethics of Care: Personal, Political and Global. New York: Oxford University Press. Noddings, N. (1984) Caring, a Feminine Approach to Ethics & Moral Education. Berkeley: University of California Press. Stensöta, H. O. (2015). Public ethics of care: a general public ethics. Ethics and Social Welfare,9(2), 183-200. Tronto, J. (2010). Creating Caring Institutions: Politics, Plurality, and Purpose. Ethics and Social Welfare, 4 (2), 158-171.