Resumo

Com o aumento da concorrência global as organizações estão se percebendo obrigadas a oferecer produtos de alta qualidade e a melhorar continuamente seus processos de produção e/ou prestação de serviços. Para tal, torna-se interessante implementar um sistema de padronização e gerenciamento de qualidade, como o ISO-9001. Este fornece um conjunto de medidas, como procedimentos escritos, registros, padronização e medição de características do produto, ações corretivas etc., bem como a implantação de políticas organizacionais voltadas à qualidade, auditorias e avaliação de gerenciamento e controle.

No contexto da gestão da qualidade as normas ISO-9001 fornecem as normatizações e parâmetros para gerenciar e padronizar o que se convencionou denominar qualidade de produtos e serviços. Argumenta-se que a implementação dos princípios que regem a busca da qualidade nos produtos e serviços processos organizacionais pode ser considerada como uma estratégia refinada de gestão de pessoas. O objetivo deste ensaio é refletir sobre o sistema ISO-9001 como uma estratégia de gestão de pessoas no espaço físico de trabalho, a partir da noção de governamentalidade foucaultiana.

Sugere-se que o sistema de padronização e gerenciamento de qualidade ISO-9001, como uma política voltada à qualidade de produtos e serviços, seja tomado como uma política de gerenciamento de trabalhadores e uma forma muito elaborada de governo das condutas, a partir da noção de governamentalidade de Foucault. Assim, o discurso da qualidade inerente ao sistema ISO-9001 pode ser tomado como um agenciador de subjetividades, dirigido a todos aqueles que o ouvem, fornecendo determinadas verdades gerais a trabalhadores impessoalizados no exercício de suas atividades laborais no espaço do trabalho.

A integração de estratégias de recursos humanos e planejamento estratégico para o alcance da qualidade passa, rigorosamente, pelo governo das condutas dos trabalhadores. A gestão da qualidade, a partir do ISO-9001 pode ser tomada como uma estratégia de gestão de pessoas no espaço de trabalho, não a partir de um controle ou vigilância estritos, como nas disciplinas do corpo, mas a partir de uma política que propõe uma forma de adesão voluntária dos trabalhadores nos processos de melhoria da qualidade dos produtos e serviços prestados pela empresa, em uma estratégia de governamentalidade.

Os sistemas de padronização e gerenciamento de qualidade estabelecem determinadas dinâmicas e estratégias de governo nas organizações, através da adoção de instrumentos, políticas e mecanismos possíveis que viabilizam a condução de todos e de cada trabalhador ao mesmo tempo, com fins a se conseguir o melhor resultado econômico possível a partir desta gestão. Compreende-se, deste modo, que a gestão de pessoas daí decorrente se daria a partir de estratégias que promovem a integração entre as disciplinas e as artes de governo no interior das organizações.

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