1 - VINICIUS GALANTE DE SOUZA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - EAESP/SP
Reumo
Desde o final do século XIX, a questão racial recebeu diferentes abordagens no país. Um primeiro movimento, na segunda metade do século XIX, se manifesta por uma réplica no Brasil de conceitos evolucionistas da época que apregoavam a superioridade da raça branca frente as demais. No século XX, uma nova "safra" de cientistas sociais brasileiros caracterizaram-se por exaltar a diversidade racial e pela construção do mito da democracia racial, isto é, a convivência harmônica entre raças. Tal compreensão tem dominado o debate público no Brasil e inibido a produção em Estudos Organizacionais sobre
O problema de pesquisa tratado é da carência ou negação da questão racial nos Estudos Organizacionais no Brasil, tendo como como objetivo discutir como no desenvolvimento das Ciências Sociais no país a temática racial recebeu diferentes abordagens, desde a reprodução de ideias que apregoavam a superioridade da raça branca até a exaltação da pluralidade racial e da miscigenação por cientistas sociais brasileiros, culminando no apagamento da questão racial no país e na carência de estudos em temas relacionados à raça na Administração e Estudos Organizacionais no Brasil.
O ensaio fundamenta-se na corrente teórica do colonialismo, compreendido como um sistema de hierarquização econômica, social e científica mundial, no qual pesquisadores do Sul Global deparam-se com menores oportunidades e espaços para suas pesquisas caso essas não obedeçam a consensos e categorias centrais e linguagens determinadas pelo Norte Global. Também se fundamenta numa leitura crítica das bases da sociologia no Brasil e de seu desenvolvimento no que se refere ao tratamento dado à raça e as relações sociais no país.
O desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil contribuiu para uma compreensão indevida da questão racial no Brasil, inserida num contexto de uma ciência nacional marcada pelo colonialismo, o que reduz o aparecimento de temas que emergem da realidade brasileira, especialmente pela submissão dos pesquisadores nacionais à critérios de ciência estabelecidos no Norte Global. Nesse sentido, a inclusão da questão racial nos Estudos Organizacionais passa pela superação do colonialismo e pela adoção de uma postura mais reflexiva dos pesquisadores nacionais.
Seja devido a noções sedimentadas ao longo da história do pensamento social brasileiro ou a fatores externos que se configuram em uma série de desvantagens e barreiras epistemológicas e linguísticas, pesquisadores brasileiros nos Estudos Organizacionais pouco têm incorporado da realidade nacional em seus estudos. Nesse sentido, é necessário que os pesquisadores brasileiros abandonem as lentes teóricas utilizadas pelo centro e busquem incorporar conhecimentos e significados que se relacionem com o seu mundo privilegiando formas situadas de conhecimento e uma postura reflexiva.