1 - Míriam de Souza Ferreira UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO (UFRRJ) - Seropédica
2 - Severino Joaquim Nunes Pereira UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO (UFRRJ) - Programa de Pós Graduação em Administração - Mestrado Acadêmico em Administração
Reumo
O Brasil é o país com as piores estatísticas relacionadas a pessoas transexuais no mundo (ANTRA,2018). Essa marginalidade social em relação a esse grupo parece também se refletir nos poucos estudos sobre esse grupo na área de marketing. Considerando que pessoas transexuais experimentam ao longo de sua vida a contradição entre a não identificação do corpo biológico com a sua identidade de gênero (CONNELL,2016). Parece ocorrer um rito de passagem para o ajuste da aparência corporal com a identidade de gênero desses indivíduos. E este estudo busca compreender o consumo neste período de transição.
Este estudo tem por objetivo identificar e analisar as categorias de consumo praticadas durante a fase liminar do rito de passagem (de gênero) de mulheres transexuais residentes da cidade do Rio de Janeiro.
O consumo emerge como um facilitador das diversas construções identitárias, pois de acordo com Barbosa e Campbell (2006, p.11) “o mundo das mercadorias desempenha um lócus privilegiado da atividade de autoconstrução identitária”. Então, o que aqui se identifica como ritos de passagem é um período de mudança para uma nova identidade. Quando as mulheres transexuais decidem fazer o que se chama de transição de gênero, o rito de passagem inicia, e essas mudanças são percebidas como “um sinal de empreendimento construtivo na busca por soluções” (CONNELL, 2016, p. 219).
Foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo uma vez que se pretendeu descrever os aspectos simbólicos do consumo de mulheres transexuais no período de liminaridade. O corpus de pesquisa foi formado exclusivamente por mulheres transexuais residentes da cidade do Rio de Janeiro, de faixa etária entre 24 e 49 anos. A coleta de dados foi realizada por meio de observações em locais de convívio deste grupo. Foram realizadas seis entrevistas em profundidade. E procedeu-se à análise de conteúdo.
A análise dos dados retratou que o consumo de bens e serviços na fase liminar representou um processo de aprendizado. As entrevistadas tiveram que lidar com normas, valores, crenças, habilidades e comportamentos relacionados a essa nova feminilidade. Foi percebido um engajamento das entrevistadas para se distanciarem dos atributos físicos indesejáveis e incorporarem novos atributos baseados na aparência. Desta forma, três categorias emergiram da análise dos dados: o consumo relacionado ao feminino, o consumo do corpo e a busca de informação.
Os resultados sugeriram que o corpo transformado representa um ganho simbólico tanto público quanto privado para estas entrevistadas e, além disso, foi um fator fundamental para que elas construíssem suas novas identidades. A busca de informações, por outro lado, emergiu como um mecanismo que fez com que as incertezas e ambivalências diminuíssem, proporcionando uma atenuação dos conflitos internos das informantes.
ANTRA, Mapa dos assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil em 2017. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/01/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra6.pdf. Acesso em: 25/01/2018.
BELK, R. W. Possessions and the extended self. Journal of consumer research, v. 15, n. 2, p. 139-168, 1988.
CONNELL, R. Gênero: em termos reais. São Paulo: Versos, 2016.
VAN GENNEP, A. Os ritos de passagem. 2. ed., Trad. Mariano Ferreira. Petrópolis: Vozes, 2011.