Resumo

Ao assumir cargos de maior complexidade nas organizações, os gestores passam a lidar de forma mais intensa com conflitos de interesses, disputas por espaço, recursos e reconhecimento. Para tanto, profissionais precisam atuar na “arena política”. É sabido que nem todo bom profissional técnico ou funcional tem perfil para atuar nessa “arena”. Acredita-se que a competência política possa ser um diferencial de sucesso na carreira dos gestores. Apesar da importância dessa competência, poucas pesquisas exploram o aspecto positivo, do comportamento político dentro das organizações.

É comum encontrar profissionais em cargos de gestão que atuam bem como líderes de equipes, mas que politicamente são um fracasso, comprometendo sua carreira e a influência política de seus subordinados. Por outro lado, encontram-se aqueles que são bons gestores na “arena política”, mas que são péssimos líderes de equipe. O desafio, quanto à preparação de gestores, é buscar aqueles vocacionados para atuar na arena política e, ao mesmo tempo, serem bons líderes de equipe. Buscou-se nesse trabalho explorar a competência política, suas dimensões e a percepção dos gestores brasileiros sobre o tema

A expressão “competência política” é proveniente do termo em inglês Political Skill. A competência política é um construto composto por quatro dimensões: astúcia social, influência interpessoal, habilidade de network e sinceridade evidente. Essas dimensões geram o aumento do poder de influência pessoal e da efetividade social. Para Mintzberg (1983), a habilidade política deve ser precedida da vontade política, que é a motivação para se engajar no comportamento político. Muitos autores consideram essa uma competência necessária para alcançar a efetividade nas organizações.

Esta pesquisa utilizou métodos mistos. O trabalho em questão foi organizado em quatro fases. Na primeira fase foi feita uma revisão da literatura internacional e nacional. Na segunda realizou-se a validação da escala Political Skill Inventory (FERRIS et al., 2005) para o português. Na terceira, criou-se um roteiro de entrevista contendo 12 perguntas abertas relacionadas à percepção dos profissionais sobre a competência política. Na quarta etapa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas contendo (Escala PSI português (18) e o Roteiro de entrevista (12) perguntas abertas.

Os dados da pesquisa a competência é complexa por envolver traços, estratégias, vontades, habilidades e atitudes (BRANT, 2017). É possível perceber que as quatro dimensões principais da competência política se complementam de várias maneiras, o que faz com que os seus limites, em muitos casos, não sejam muito claros. Isso ocorre porque essas dimensões são interdependentes e podem e devem ser utilizadas em conjunto para obtenção de uma maior efetividade, o que corrobora a ideia de Ferris et al. (2005) de que a competência política não é uma única habilidade ou traço.

É importante para os gestores saber lidar com as incertezas e subjetividades do mundo contemporâneo. A competência política parece contribuir para a adequação ao ambiente corporativo da atualidade na medida em que trata de um comportamento flexível, por meio da capacidade de adaptar o comportamento às diferentes situações sociais no ambiente organizacional e por envolver um comportamento ético e íntegro. Trata-se de um construto complexo, dinâmico e que lida com a interdependência, as ambiguidades e os conflitos inerentes às interações humana.

AMMETER, A. P. et al. Toward a political theory of leadership. The Leadership Quarterly, v. 13, n. 6, p. 751-796, 2002. FERRIS, G. R. et al. Development and validation of the political skill inventory. Journal of Management, v. 31, n. 1, p. 126-152, 2005. FERRIS, G. R.; DAVIDSON, S. L.; PERREWE, P. L. Political skill at work: Impact on work effectiveness. Mountain View, CA: Davies-Black Publishing, 2005. FERRIS, G. R.; TREADWAY, D. C. (Eds.). Politics in organizations: Theory and research considerations. New York: Routledge, Taylor and Francis Group, 2012, p. 487-529.