Resumo

Embora haja um crescente número de pesquisas sobre a expansão internacional das firmas, pouca atenção tem sido dada aos fatores não mercadológicos que influenciam a estratégia das empresas que atuam em mercados estrangeiros (Fernandes, Bandeira-de-Mello, & Zanni, 2012). Dentre os fatores não mercadológicos ainda pouco explorados na literatura está a compreensão dos motivadores da relação firma-governo no âmbito da expansão internacional das organizações. Não há unanimidade entre os autores acadêmicos sobre os resultados das conexões políticas para as empresas (Mancuso, 2012; Fejgelman, 2016).

Essa pesquisa tem o objetivo de contribuir para o conjunto de obras que abordam a relação empresa-governo, levantando evidências empíricas que permitam avaliar se as conexões políticas influenciam a expansão internacional das organizações. Dentro deste contexto, este trabalho busca respostas para a seguinte questão de pesquisa: as firmas mais conectadas politicamente tendem a se expandir internacionalmente mais do que as que não conectadas?

Holburn e Zelner (2010) verificaram que as firmas de países com instituições políticas mais fracas são mais habilidosas em lidar com mecanismos políticos, reduzindo o efeito do risco político em suas decisões de internacionalização. Costa, Bandeira-de-Mello e Marcon (2013) encontraram fortes evidências das conexões políticas como uma explicação à expansão dos grupos empresariais brasileiros. Du e Luo (2016) encontraram indícios de que as conexões políticas e as instituições formais domésticas desempenham um papel importante na definição da estratégia de internacionalização das empresas.

A partir de dados da Economática®, montou-se uma base das 364 empresas ativas e listadas na B3 em dezembro de 2016. Desta base foram excluídas 12 firmas de propriedade governamental e 78 organizações que atuam em setores de concessão de serviços públicos, pois estas estão proibidas de realizar doações às campanhas eleitorais. Para cada uma das 274 firmas da base única foi efetuada a coleta do: (i) valor das doações às campanhas eleitorais apresentados nas eleições federais e estaduais de 2006, 2010 e 2014; e (ii) índice de transnacionalidade da UNCTAD da FDC, do período de 2007 a 2016.

Por meio do estimador de Driscoll-Kraay, ao nível de 5% de significância, os resultados obtidos para a variável doações às campanhas eleitorais (DOA) confirmam o efeito esperado pela hipótese H1, ou seja, de que há indícios de que foi encontrada uma relação positiva entre as conexões políticas, estimada por meio da proxy doações eleitorais (DOA), e o grau de internacionalização das empresas. A variável de controle tamanho (LnTAM) se apresentou como positiva e significante a 1% (p-valor nulo), sugerindo que quanto maior for o tamanho da firma, maior será o seu grau de internacionalização.

Verificou-se que a doação às campanhas eleitorais tem relação positiva com a expansão internacional, indicando que as firmas mais conectadas politicamente tendem a ter um grau de internacionalização maior do que as não conectadas. A relação positiva entre as doações às campanhas eleitorais e os financiamentos do BNDES corrobora os resultados apresentados por Holburn e Zelner (2010), Costa, Bandeira-de-Mello e Marcon (2013) e Du e Luo (2016), que levantaram indícios de que as conexões políticas desempenham um papel relevante na determinação da estratégia de internacionalização das empresas.

Claessens, S., Feijen, E., & Laeven, L. (2007). Political Connections and Preferential Access to Finance: The Role of Campaign Contributions. ECGI Working Paper. Series in Finance. Costa, M., Bandeira-de-Mello, R., Marcon, R. (2013). A Influência da Conexão Política na Diversificação dos Grupos Empresariais. Revista de Administração de Empresas, v. 53, n. 4. Holburn, G. L. F., & Zelner, B. A. (2010). Political capabilities, policy risk, and international investment strategy: evidence from the global electric power generation industry. Strategic Management Journal, v. 31, n. 12.