Resumo

Título do Artigo

DISCURSO RELIGIOSO E PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES EM UMA PRISÃO FEMININA: um controle de almas?
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Palavras Chave

Discurso religioso
Subjetividades
Relações de Poder

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - Clara Luisa Oliveira Silva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - CEPEAD
2 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

Em linhas gerais, constituem pressupostos que orientam este trabalho a noção de que as práticas discursivas se apresentam como aspectos importantes na compreensão das organizações (MUMBY; CLAIR, 1997), bem como a ideia de que estas práticas discursivas se relacionam com a produção de subjetividades nas organizações, sendo a subjetividade compreendida a partir do enfoque histórico-cultural (GONZÁLEZ REY, 2003).
Objetiva-se analisar as relações entre discurso religioso e produção de subjetividades em uma prisão feminina. Subjacente a este objetivo está a problemática da produção (e controle) da subjetividade nas organizações. A linha de argumentação construída destaca que as interfaces entre o discurso religioso e a produção de subjetividades estão atravessadas por relações de poder. Considerando aspectos da analítica foucaultiana, afirma-se que a produção de subjetividades por meio de práticas discursivas religiosas trata-se de um processo em que se implicam dinâmicas de poder pastoral e biopoder.
Apresenta-se uma discussão teórica que procura relacionar as categorias que conformam este estudo, discursos e subjetividades, e ainda elementos da analítica foucaultiana do poder para a investigação dos efeitos do discurso religioso no espaço social da prisão. Por meio de Rodrigues (2005) e outros autores, forma-se o entendimento de que a prática religiosa na prisão incorpora sentidos múltiplos. Parte do arcabouço sobre subjetividade é sustentado por González Rey (2003). Consideramos na composição do argumento, aspectos da análise foucaultiana (FOUCAULT, 1988).
Trata-se de um estudo de caso de cunho qualitativo, realizado na unidade feminina de um dos centros de ressocialização da Associação de Proteção aos Condenados (APAC), unidade esta que se localiza em uma cidade do interior do estado de Minas Gerais. Foram realizadas 26 entrevistas com as recuperandas e 4 entrevistas com os membros do que chamamos de equipe dirigente. As entrevistas transcritas constituíram um corpus que foi interpretado tendo em vista o uso da técnica de análise do discurso em sua vertente francesa .
Na pesquisa, os processos dialógicos versaram sobre o exercício das práticas religiosas na APAC, como tais práticas são inseridas no cotidiano da prisão e delimitam as trajetórias subjetivas e relações sociais na prisão. De modo geral, nos discursos da equipe dirigente e das recuperandas, evidencia-se que as relações que o sujeito estabelece com alguma crença religiosa (ou melhor dizendo, com algo associado ao que é espiritual) são objeto de regulação no espaço social da APAC. Destacam-se os discursos da adesão e da conversão religiosa, a religião como mecanismo de refúgio, transcendência, etc
Na APAC, a prática religiosa, que se constitui como uma prática discursiva, se insere em um contexto de estratégia biopolítica na medida em que, em um primeiro nível, é garantida por uma razão governamental que permite, por meio do texto da lei, a assistência religiosa na prisão. Em outro nível, a ideia da prática religiosa como estratégia biopolítica se relaciona, e ao mesmo tempo, se confunde com os efeitos de um poder pastoral.
FOUCAULT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. 13 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. GONZÁLEZ REY, F. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. MUMBY, D. K.; CLAIR, R. P. Organizational discourse. In: VAN DIJK, T. A. (Ed.). Discourse as social interaction. London: Sage, 1997. RODRIGUES, G. E. Transgressão, controle social e religião: um estudo antropológico sobre práticas religiosas na penitenciária feminina do estado do Rio Grande do Sul. Debates do NER, Porto Alegre, ano 6, n. 8, p. 9-20, jul./dez. 2005.