Resumo

No Brasil, o tema da sustentabilidade é relativamente novo, bem como suas práticas: apenas 3% do lixo é reciclado no País, apenas para citar um levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Este trabalho aborda o estudo de dois casos em pequenos restaurantes que oferecem alimentação orgânica e vegetariana na cidade de São Paulo, enfocando as questões de discurso e prática na responsabilidade socioambiental e ética desses estabelecimentos.

O problema de pesquisa que se apresenta neste estudo é o seguinte: existe consonância ou dissonância entre o discurso da sustentabilidade e a prática de gestão ética e transparente com os funcionários? O objetivo do trabalho é analisar aspectos relativos a gestão de pessoas, ética e sustentabilidade de dois pequenos restaurantes localizados em São Paulo. A realização da pesquisa foi autorizada sob a condição de manter em sigilo o nome das organizações, que serão denominadas A e B.

Para responder (ainda que provisoriamente) ao problema de pesquisa levantado, a pesquisa bibliográfica se organizou em duas vertentes: ética corporativa e responsabilidade socioambiental. Esta última está correlacionada ao conceito de sustentabilidade, que, por sua vez, é intimamente ligado à transparência na governança corporativa. Em resumo, a revisão da literatura aponta que a construção de uma cultura organizacional voltada à sustentabilidade passa necessariamente pela gestão de pessoas.

A pesquisa realizada tem caráter descritivo, e se trata de um estudo de dois casos realizado em restaurantes concorrentes entre si, que oferecem alimentação orgânica no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Amparado pela pesquisa bibliográfica, o trabalho de campo, realizado nos meses de março a junho de 2016, incluiu os procedimentos metodológicos de observação direta, entrevistas (com os dois gestores) e questionário (para todos os 21 funcionários dos dois restaurantes).

Em ambas as empresas estudadas, os funcionários reconhecem a preocupação com a responsabilidade socioambiental e conhecem missão, visão e valores. Porém, 5 em 14 entrevistados na Empresa A e 5 em 7 na Empresa B afirmam que apenas “às vezes” a empresa é ética com os funcionários. Esses dados apontam que há uma dissonância entre discurso e prática nessas organizações, que pregam a sustentabilidade e ao mesmo tempo parecem não valorizar a ética e a transparência com seus funcionários.

A análise dos resultados dos questionários aplicados aos colaboradores aponta que, apesar de as empresas comunicarem bem o discurso da responsabilidade socioambiental, elas nem sempre são éticas com os funcionários. Relacionando os dados colhidos em campo com os autores estudados, pode-se afirmar que, para eliminar essa dissonância entre discurso e prática, o caminho é alinhar as estratégias de gestão de pessoas com os conceitos da sustentabilidade – que, necessariamente, passam pela ética.

MEIRELES, O.B; DEBASTIANI, M.S; BERTOLINI, F.R.G; JOHANN, A.J. Perfil socioeconômico dos consumidores de restaurantes em relação à valorização de produtos orgânicos: Uma análise comparativa. Revista GeAs. São Paulo, v.5, n.1, p. 33-44, jan.-abr. 2016. PIRES, F. M.; FISCHER, A. L.; COMINI, G. M. Integração entre Gestão de Pessoas e Sustentabilidade: Análise de Discussão na Literatura Nacional e Internacional. In: SEMEAD, 15., 2012, São Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo: FEA-USP, 2012.