Resumo

Surge nos anos 2000 a denominada “nova classe média”,uma camada representativa da população que passa a chamar a atenção e torna-se objeto de estudo da economia, da antropologia e do marketing. Ao se analisar com maior atenção os membros dessa nova classe média, nota-se a participação efetiva dos jovens da geração Y como parte do motor que impulsiona o consumo desse grupo. Dentre as preocupações desses jovens a aquisição do primeiro imóvel figura como uma das mais importantes.

Da construção do sistema simbólico envolvendo jovens geração Y da nova classe média, a partir da constatação de que a aquisição de um imóvel está entre suas principais motivações de consumo, emergiu a motivação de empreender uma pesquisa empírica. Pesquisa essa com o objetivo de analisar a forma como indivíduos da Geração Y integrantes da nova classe média constroem os significados relacionados ao consumo do primeiro imóvel na sua vida cotidiana.

A fundamentação teórica do estudo focou em três grandes eixos. O primeiro deles buscou discutir questões atinentes ao consumo em uma perspectiva cultural e socialmente construída. Essa vertente apresenta aderência à corrente teórica denominada Consumer Culture Theory. O segundo eixo buscou apresentar algumas questões sobre o significado de classes. O terceiro eixo foca esforços em discutir o conceito de gerações à luz da literatura sobre a temática.

A pesquisa debruçou-se na análise de 16 entrevistas em profundidade com jovens Geração Y da nova classe média. Utilizou-se um roteiro de entrevistas com questões abertas e abrangentes. A coleta de dados ocorreu nas residências dos entrevistados. Na análise desse corpus, utilizou-se análise de conteúdo. Por meio do software Atlas/ti foram gerados 106 códigos que foram agrupados em 16 subcategorias e, por fim, em 5 categoriais finais que serviram de base para a discussão dos resultados.

Cinco categorias emergentes da análise serviram de base para a análise dos resultados: “A ascensão social e a comprada casa própria”, “O processo de compra: do ‘impossível’ à casa própria”, “O hedonismo do lar”,“Os rituais de consumo da casa própria” e “A Rotina do lar e os desafios da casa própria”. No geral, essas categorias fazem apontamentos que permitem afirmar que no consumo do primeiro imóvel pelos jovens pesquisados desfilam uma série de elementos simbólicos e socialmente construídos.

Identificou-se que estes jovens assumem papel de centralidade em seu grupo de origem e tornam-se referências nele ao mesmo tempo que, contraditoriamente, eles próprios buscam suas referências dentro do novo habitus que passam a viver. Outra conclusão é que enquanto a posse de bens é o que define a noção de “melhor condição de vida” destes jovens quando analisam sua situação atual é o acesso a maior capital cultural e social que determinará a melhor condição de vida que planejam a seus filhos.

Neri, M. (2011). A nova classe média: o lado brilhante da base da pirâmide. São Paulo. Saraiva. McCracken, G. (2007). Cultura e consumo: uma explicação teórica da estrutura e do movimento do significado cultural dos bens de consumo. Revista de Administração de Empresas, 47(1), 99-115. Mannheim, K. (1982). O problema sociológico das gerações. In: Marialice M. Foracchi (Org.). Karl Mannheim: sociologia. (pp. 67-95). São Paulo, Ática.