Resumo

É crescente a importância acadêmica para o tema gestão de aprendizagem intercultural (Eisenberg, 2013). A influência da cultura nacional (Hofstede, 2010) no processo de transferência de conhecimento vem sendo estudada em diferentes contextos nacionais (El Din Nafie, 2012; Wende, 2008; Michailova, 2006). Organizações devem se preocupar em não apenas produzir conhecimento, mas também garantir sua transferência e aprendizado, inclusive em situações interculturais (Michailova, 2006).

O artigo objetiva avaliar, qualitativamente, se o modelo conceitual de aprendizado intercultural de A. Kayes et al. (2005) opera de forma universal com gerentes de uma multinacional transferidos para culturas nacionais distintas daquela de seu país de origem. A questão de pesquisa examina se o modelo de Kayes funciona igualmente em qualquer cultura, se os sete estágios ocorrem em qualquer contexto cultural, e finalmente, se o tempo de residência altera a forma em que os sete estágios operam.

As dimensões culturais de Hofstede (2010) oferecem uma forma padronizada para medir diferenças culturais, e permitem reduzir o foco nas complexidades do tema cultura (Shenkar, 2001). Pesquisadores têm utilizado as dimensões de Hofstede em uma variedade de projetos de pesquisa, incluindo sobre transferência de conhecimento. Autores como Michailova (2006) argumentam que importantes diferenças e semelhanças culturais entre países impactam no compartilhamento do conhecimento dentro das organizações.

Adotou-se o método Estudo de Caso. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas a partir de amostra teórica com quatro gerentes brasileiros transferidos para os Estados Unidos e República Tcheca, por uma mesma multinacional americana da indústria de tecnologia da informação. Os países foram selecionados por apresentarem diferenças significativas em proximidade e distância em relação à cultura brasileira, permitindo examinar o modelo de Kayes em operação em dois contextos culturais distintos.

Há proximidade cultural entre Brasil e Rep. Tcheca para as dimensões de Individualismo (IDV), Masculinidade (MAS) e Prevenção de Incertezas (UAI); enquanto Brasil e EUA apresentam proximidade em Orientação para Longo Prazo (LTO) e Indulgência (IND). Sobre Distância de Poder (PDI), o Brasil apresenta-se distante destes dois países. As dimensões culturais de Hofstede (2010) IDV, MAS, IND e PDI demonstraram influenciar as experiências de aprendizado de brasileiros atuando na Rep. Tcheca e nos EUA.

O modelo de A. Kayes et al. (2005) com sete estágios de aprendizagem entre culturas se apresentou coincidente com relatos de entrevistados que trabalham em duas culturas relativamente diferentes da brasileira. Os sete estágios não foram necessariamente identificados em cada entrevista; e não sofrem influência significativa do fator tempo de residência no país. Todavia, os estágios sofrem influência de diferentes culturas nacionais e, portanto, operam de forma diferenciada, e não universal.

Hofstede et al. (2010). Cultures and Organizations: Software of the Mind (3a. Edição). Estados Unidos: McGraw-Hill. Kayes, A. et al. (2005). Transferring Knowledge across Cultures: A Learning Competencies Approach. Performance Improvement Quarterly, 4, pp. 87-100. Miles & Huberman (1994). Qualitative data analysis: an expanded sourcebook (2nd ed.). Newbury Park, CA: Sage Publications. Yin (2014). Case study research: design and methods (5th ed.). Thousand Oaks, CA: Sage Publications.