Resumo

Muitos estudos buscaram identificar organizações do terceiro setor pautadas na racionalidade substantiva. Nessa pesquisa, argumentamos que a racionalidade instrumental e a substantiva, ao invés de opostas, podem se comportar de maneira complementar, de modo que uma fortaleça a outra, aumentando tanto a identidade e os valores quanto os resultados. Entende-se que haja a necessidade de um equilíbrio para que a racionalidade instrumental, predominante atualmente, não ofusque a substantiva.

A premissa é que a racionalidade instrumental, no contexto de organizações produtivas e de organizações não produtivas, permite a sobrevivência da organização e o atingimento de resultados, além de reforçar os valores substantivos, motivando e engajando seus membros ao explicitar a tangibilidade dos ideais. Nosso objetivo é estudar como a organização compreende a relação e a tensão (ou não) entre as racionalidades substantiva e instrumental e como respondem às mesmas.

Muitos estudos buscaram identificar organizações pautadas predominantemente na racionalidade substantiva e demonstram que organizações do terceiro setor têm como objetivo os valores e não o foco em resultados. Todavia, estudos relatam a crescente profissionalização do terceiro setor (Hwang & Powell, 2009) e argumentam que esta traz implicações de enfraquecimento dos valores dessas organizações.

Realizou-se um estudo de caso da ITCP-FGV analisando suas mudanças ao longo do tempo. A escolha do estudo de caso deve-se ao fato de propiciar o adequado exame de acontecimentos contemporâneos (Yin, 2001). Na coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas que abrangeram as diferentes etapas vivenciadas pela organização, além da análise documental. As entrevistas foram feitas ao vivo, por Skype ou telefone; dependendo da disponibilidade do entrevistado.

A intensificação da racionalidade instrumental não enfraqueceu a racionalidade substantiva. De certo modo, nesse contexto, pode ter aumentado, uma vez que mais grupos estavam sendo incubados e mais estudantes começam a participar da ITCP. Todavia, a chegada dos financiadores privados, com diversas exigências e foco em geração de renda e não em alta gestão, e a quantidade de projetos; gera uma necessidade de reestruturação gerencial.

Nossa pesquisa mostrou que a racionalidade instrumental pode ser intensa sem detrimento da racionalidade substantiva. Todavia, existe uma tensão contínua que precisa ser administrada pelos membros da organização para que a racionalidade instrumental não se torne predominante em detrimento da substantiva. Nesse processo de busca de resultados são necessárias estratégias para que o foco nos resultados não se torne predominante, os membros devem criar mecanismos para que essa ação ocorra.

Kalberg, S. (1990) Max Weber’s types of rationality: cornerstones for the analysis of rationalization processes in history. American Journal of Sociology, 85(5), 1145-1179. Ramos, A. G. (1989). A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações (2 ed). Rio de Janeiro: FGV. Serva, M. (1997). A racionalidade substantiva demonstrada na prática administrativa. Revista de Administração de Empresas, 37 (2), 18-30.