1 - Antonio Fagner da Silva Bastos UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas
2 - Cédrick Cunha Gomes da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Reumo
As cidades modernas são caracterizadas por um histórico de planejamento urbano que privilegia o sistema da automobilidade. Tal hegemonia produziu relações desiguais nos espaços urbanos, marginalizando outros modais de transporte (i.e. pedestrianismo e ciclismo). Uma resposta a essa apropriação tem sido a adoção da ciclomobilidade como forma de amenizar os problemas gerados pela soberania da automobilidade.
A ciclomobilidade como solução tenderá a ser mais eficiente, imagina-se, se consideradas todas as dimensões que compõem o espaço urbano. Diante de sua importância, é necessário que o espaço da ciclomobilidade urbana seja delineado. Este artigo objetiva, então, propor dimensões espaciais necessárias à inserção da bicicleta como umas das ferramentas de promoção de mobilidade urbana e identificando-as no discurso da principal instituição cicloativista de São Paulo.
Assumiremos o espaço como um composto multidimensional de quatro partes sobrepostas da mais ampla a mais específica. São elas: o espaço global, o local, o coletivo e o particular.
Partimos do pressuposto que o discurso é visto não somente como ato de fala, mas como prática articulatória que o indivíduo utiliza para interagir com o mundo. Assim, analisando os enunciados não-hegemônicos da ciclomobilidade podemos observar como seus defensores a estão construindo discursivamente. Para se fazer essa análise, utilizamos as ideias desenvolvidas por Bardin (2011) para análise de conteúdo (AC).
No espaço global, a ciclomobilidade aparece como alternativa menos poluente à automobilidade, resposta ao uso supérfluo do carro, opção capaz de reduzir as desigualdades sociais. No espaço local – cidade de São Paulo – é anunciada como historicamente renegada pela priorização da automobilidade, o que promoveu uma cidade poluída, congestionada, individualista e hostil para com modos não motorizados de deslocamento. No espaço coletivo, apresenta-se como não satisfatória em relação à integração entre modais ativos. No espaço local, os cicloativistas sentem-se excluídos pelas políticas públicas.
Mais que infraestrutura, os cicloativistas almejam uma quebra de paradigma. Querem que o automóvel deixe de ser protagonista das políticas públicas urbanas de mobilidade. Ou seja, não o negam dentro dos sistemas de mobilidade, mas aceitam seu uso com parcimônia. Logo, o que precisa acontecer é a ressignificação dos espaços públicos. Que estes possam proporcionar condições de possibilidade para atender as diferentes demandas. Fazendo com que o cidadão possa escolher como se deslocar e não ser induzido a se adequar a automobilidade.
BARDIN, L. Análise do Discurso. São Paulo: Edições 70; Almedina Brasil, 2011.
KANG, S. J.; YOSHIMI, S. The Perspective of Globalizations: Searching for New Public Spaces. Iwanami Shoten, 2001.
LACLAU, E.; MOUFFE, C. Hegemonia e estrategia socialista: Por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios, 2015.
SHELLER; M.; URRY, J. The city and the car. International Journal of Urban and Regional Research, v. 24, n. 4, p. 737-757, 2000.