Resumo

De acordo com Woodward (2000), os estudos sobre identidade se baseiam nas visões essencialistas e não essencialistas, isto é, em concepções de identidade como estável e permanente ou como um processo instável e fragmentado, respectivamente. Já a razão é um dos critérios que diferencia o ser humano dos demais seres da natureza, e sua capacidade de raciocinar, além de orientar suas ações cotidianas, também se relaciona com o processo de construção da sua identidade (BARROS; OLIVEIRA, 2012)

Este artigo teve como objetivo analisar, com base nas práticas cotidianas do homem comum (MARTINS, 2008), a construção das identidades de catireiros da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, bem como compreender quais os tipos de racionalidades orientam suas práticas na catira.

De acordo com Arendt (2004), ao agir no mundo, além de se assumir a condição de ser humano e de interagir com os outros, o indivíduo se revela por meio de suas palavras e de seus atos. Nas palavras de Ciampa (2005, p. 86) “só se é alguém através das relações sociais. O indivíduo isolado é uma abstração. A identidade se concretiza na atividade social. [...] Uma identidade que não se realiza na relação com o próximo é fictícia, e abstrata, é falsa”.

Para atingir o objetivo proposto, utilizamos da abordagem da pesquisa qualitativa, de caráter exploratório. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas com 31 catireiros que residem atualmente na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Os catireiros puderam ser encontrados, a priori, por uma lista que os pesquisadores possuíam e, posteriormente, por meio da técnica da bola de neve. A análise dos dados foi feita através da Análise Crítica do Discurso (ACD).

De acordo com os entrevistados, o agir no mundo e suas práticas cotidianas se dá, principalmente, através do trabalho, pois quase todos utilizam do vocábulo “trabalho” em seus discursos. É importante destacar ainda que os catireiros também são capazes de exercer diferentes tipos de racionalidades em diferentes contextos sociais, como acontece com aqueles praticantes que catiram por hobby.

Os catireiros, inicialmente, buscaram se identificar e se diferenciar dos demais por meio de substantivos, demonstrando quem são. Posteriormente, os respondentes passaram a utilizar verbos que caracterizam suas práticas cotidianas na catira, demonstrando, a partir daí, o que são. Nesse sentido, ações como andar, estabelecer contatos, conhecer pessoas, negociar e entender do mercado são algumas práticas que perfazem, (re)constroem e materializam cotidianamente as identidades desses catireiros

ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. CIAMPA, A. C. Estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasiliense, 2005. GUERREIRO RAMOS, A. A Nova Ciência das Organizações: uma reconstrução da riqueza das nações. Rio de Janeiro: FGV, 1981. SERVA, M. A racionalidade substantiva demonstrada na prática administrativa. Revista de Administração de Empresas, v. 37, n. 2, p. 18-30, abr/jun, 1997. WEBER, M. Economia e sociedade. Brasília: Ed. UnB, 1994.