Resumo

Em programas de aceleração de negócios sociais, diferentes atores influenciam o desenho e a implantação de métricas de impacto e as formas de coleta dos dados. Alguns desses programas envolvem múltiplos atores em uma rede com múltiplos papéis. Argumentamos que as aceleradoras utilizam algumas capacidades dinâmicas de stakeholder transformation para influenciar a elaboração e a implementação de metodologias de avaliação de impacto de suas empresas aceleradas ao mesmo tempo em que as aceleradas utilizam dessas capacidades para incorporar os aprendizados.

A fim de medir eficácia, aceleradoras oferecem a startups do setor socioambiental apoios no desenho e implantação de avaliação e monitoramento de impacto. Contudo, poucas práticas de medição de impacto socioambiental são implementadas nessas empresas devido a diferentes obstáculos. O presente artigo argumenta que o plano de avaliação de impacto é um processo negociado entre as empresas sociais, aceleradoras e outros stakeholders. E, em um programa de aceleração, é preciso compreender como cada relação entre stakeholders influencia as práticas de avaliação de negócios.

O presente trabalho considera uma aceleradora como stakeholder que influencia ativamente as empresas aceleradas, em lógica de rede, no plano e execução de avaliação de impacto por meio de capacidades dinâmicas de transformação (aprendizagem, mudança, networking e relacionamento) necessárias a todos os stakeholders envolvidos em uma rede de relacionamentos iterativos e dinâmicos.

Foi realizada uma pesquisa qualitativa, dedutiva e descritiva por meio de um método de estudo de casos múltiplos, sendo a unidade de análise a relação entre diferentes stakeholders do programa de aceleração Green Sampa, iniciativa da Agência São Paulo de Desenvolvimento (ADESAMPA), realizado entre setembro de 2022 e junho de 2023. A pesquisa coletou dados documentais do programa, realizou uma survey qualitativa com os negócios e conduziu 16 entrevistas em profundidade com cinco grupos informantes com base em sua atuação no processo de aceleração.

As capacidades dinâmicas de transformação foram reconhecidas de formas distintas nas relações estudadas. Em uma complexa rede de stakeholders, aspectos como mudanças estruturais profundas no programa ao longo do tempo, atenção às necessidades específicas dos negócios e habilidade em orientar e gerar conexões favoreceram o gerenciamento das relações. Foram também reconhecidos obstáculos como ausência de rotinas e mecanismos formais de reporte, diferentes níveis de maturidade entre as aceleradas, falta de alinhamento entre atores e relações contratuais pontuais entre alguns stakeholders.

As capacidades dinâmicas estudadas mostraram que programas de aceleração conseguem influenciar os desenhos de indicadores e métodos de avaliação de impacto de suas aceleradas quando incorporam esses conteúdos em suas atividades. No entanto, programas complexos exigem alinhamento entre stakeholders para que a capacidade de relacionamento aconteça ao longo do tempo. Além disso, a capacidade de mudança requer rotinas e mecanismos formais de entrega de atividades e dados, devolutivas e acompanhamentos para monitorar a evolução e real assimilação dos conhecimentos pelas empresas.

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