Resumo

A improvisação surge quando uma incompatibilidade entre a realidade esperada e a real pode ser percebida, isso acontece quando os membros de uma organização enfrentam eventos inesperados para os quais não possuem nenhuma ação planejada, e que exigem respostas rápidas (CUNHA; CUNHA; KAMOCHE, 1999). Assim, este trabalho buscou compreender como as práticas improvisacionais realizadas em resposta à incertezas influenciam o aprendizado organizacional na percepção de gestores acadêmicos. Esta pesquisa teve como plano de fundo os eventos ocorridos durante a Pandemia da Covid-19.

A improvisação emerge nas organizações quando seus gestores enfrentam desafios para os quais planos existentes e as práticas gerenciais conhecidas são impotentes para enfrentá-los. Como aos desafios emergentes, os gestores improvisam, podendo gerar aprendizado organizacional. Diante deste pressuposto, não fica claro na literatura qual a influência da improvisação para as organizações educacionais, assim, este trabalho tem por objetivo compreender como as práticas improvisacionais influenciaram o aprendizado de uma organização na percepção de seus gestores acadêmicos.

Em relação ao suporte teórico, o estudo teve como base conceitos relacionados à gestão acadêmica (MEYER, 2014), improvisação organizacional (KAMOCHE; CUNHA; CUNHA, 2002; SCAGLIONE; MEYER; MAMÉDIO, 2019; CIUCHTA; O’TOOLE; MINER, 2020) e aprendizado organizacional (ARGYRIS; SCHON; 1997; CUNHA et al., 2016).

É um estudo de caso único, fruto de uma dissertação de mestrado e que integrou o Projeto “Improvisação na Gestão Universitária: Práticas e Desempenho Organizacional”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com 22 gestores, documentos de um Centro Universitário Catarinense e observação não participante, sendo a análise de dados realizada de forma narrativa. Examinou-se as práticas improvisacionais e sua influência no aprendizado organizacional na percepção dos gestores acadêmicos.

A análise revelou que os gestores acadêmicos utilizaram-se de práticas improvisacionais como forma de responder aos fatores inesperados, particularmente aqueles ligados à pandemia. Foram identificados nove casos de improvisação na gestão acadêmica. A improvisação se manifestou de diversas formas, desde pequenas adequações e ajustes, até grandes movimentos institucionais, como por exemplo, a criação e atuação do Comitê de Contingência e as ações de planejamento e implementação do ensino remoto.

Os resultados demonstram que a improvisação é um processo trivial e mundano de aprendizagem organizacional, e não uma ação extraordinária. As práticas improvisacionais possuem relevante importância na gestão acadêmica, principalmente quando os planos existentes e práticas gerenciais conhecidas são insuficientes para lidar com os desafios ambientais. Assim, a improvisação, além de ser ferramenta primordial para lidar com contextos incertos, aprimora o repertório de práticas gerenciais acadêmicas e contribui positivamente para o aprendizado organizacional

ARGYRIS, C.; SCHÖN, D. Organizational learning: a theory of action perspective. Reading: Addison Wesley, 1997. CIUCHTA, M. P.; O’TOOLE, J.; MINER, A. S. The Organizational Improvisation Landscape: Taking Stock and Looking Forward. Journal of Management, v. 47, n. 1, p. 288-316, 2020. CUNHA, M. P. et al. Tales of the unexpected: Discussing improvisational learning. Management Learning, v. 46, n. 5, p. 511-529, 2016. MINER, A. S.; O’TOOLE, J. Organizational learning and organizational improvisation. The Oxford Handbook of Group and Organizational Learning, p. 57, 2020.