Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar práticas de assédio sexual contra mulheres em organizações representadas em séries televisivas. Para tal investigação, foram analisados três episódios de séries de TV, por meio de análise fílmica, nos quais são retratados casos de assédio em diferentes organizações: dentro de uma clínica de massagem (Friends, 1995), em uma empresa de finanças e em uma delegacia de polícia (Brooklyn Nine-Nine, 2019), e em uma emissora de TV (The Morning Show, 2019).

Apesar da importância desses temas de assédio nos Estudos Organizacionais, percebe-se que ainda há pouca discussão do assunto dentro do campo. Desse modo, surge o seguinte questionamento: “Como se configuram práticas de assédio sexual contra mulheres em organizações representadas em séries televisivas?”. Desta forma, será possível analisar como estas práticas de assédio sexual se configuram nas representações dos episódios de séries de TV.

Para embasar o artigo, foram apresentados Estudos Baseados em Prática (EBP), o conceito de gênero e de assédio nas organizações. Foram evidenciadas três práticas de gênero interligadas: prática de assédio sexual, prática de compra de silêncio das vítimas/sobreviventes e a denúncia como uma possível prática de resistência. Tais práticas se conectam por meio de entendimentos compartilhados, como o de superioridade do homem em relação à mulher e de estruturas teleoafetivas, evidenciadas no desejo do homem de subjulgar a mulher e no sentimento de culpa que as mulheres experimentam após o assédio.

A pesquisa tem caráter qualitativo e a abordagem epistemológica adotada é a dos EBP, pois tal compreende que a realidade é constituída a partir de interações entre ações e arranjos materiais, levando em consideração a linguagem, as regras, os entendimentos e as estruturas teleoafetivas. propõem os EBP. A análise fílmica foi escolhida como principal abordagem metodológica, visto que os objetos de estudo analisados são episódios de séries de TV. Por meio desta abordagem é possível analisar as representações das práticas reais das relações de trabalho, dentro do ambiente organizacional.

Inicialmente, serão apresentados os marcadores sociais da diferença de cada vítima de assédio como forma de auxiliar na identificação das personagens principais nos casos de assédio analisados. Além disso, foram consideradas as reflexões propostas pela interseccionalidade, que surgem a partir do cruzamento destes marcadores, estes serão fundamentais para entender como estas características interferem nos casos de assédio. Evidenciou-se que as séries em questão privilegiam personagens que constituem grupos hegemônicos – brancas, cisgênero, sem deficiência, heterossexuais.

Nós, mulheres, estamos conquistando nosso lugar dentro das organizações. Embora seja, de fato, uma conquista, é importante refletir: será que as práticas de gênero em torno das mulheres desapareceram por causa disso? A análise mostrou que não e ainda revelou o pouco espaço que as emissoras norte americanas dão a grupos minorizados e, consequentemente, para a abordagem limitada em torno da experiência com o assédio, que fica evidente nas descrições e análises.

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