Resumo

Os estudos atuais têm se concentrado em compreender o perfil e a trajetória do empreendedor. Nesta seara, destaca-se que os donos de negócios que se autodeclararam negros, ao final do segundo semestre do ano de 2022, somavam 52% dos empreendedores no Brasil, constituindo a maioria da força empreendedora, conforme pesquisa mais recente divulgada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), todavia, os empreendedores negros apresentaram rendimento médio 32% inferior ao de empreendedores autodeclarados brancos (SEBRAE, 2022). 

O problema de pesquisa que pretende ser respondido é “Como as experiências e trajetórias de vida de empreendedores negros influenciam no desenvolvimento de seus negócios?”. O objetivo, portanto, é compreender quais são as dificuldades específicas que empreendedores negros enfrentam em suas jornadas empreendedoras, além de analisar de que maneira as experiências pessoais e as trajetórias de vida desses empreendedores influenciam no desenvolvimento de seus negócios, apesar das adversidades enfrentadas.

Balog e Zouain (2022) afirmam que o Brasil é um país que já apresenta dificuldades para o empreendedorismo, como falta de investimentos, falta de capacitação, burocracia em excesso para abertura de negócios, tributação excessiva, mas quando se fala em grupos minoritários essas dificuldades são ainda mais significativas. A condição étnica dos empreendedores negros passa a fazer parte da lógica de mercado e essas pessoas para além de enfrentarem as barreiras inerentes a qualquer empreendimento no sistema capitalista, abarcam também as dificuldades de natureza étnico-raciais (Almeida, 2013).

A abordagem qualitativa foi escolhida para compreender profundamente as dificuldades que os empreendedores negros possuem para o desenvolvimento de seus negócios, bem como entender como suas vivências influenciam para prosseguirem no empreendedorismo. Para isso, foram realizadas seis entrevistas semiestruturadas com empreendedoras negras. A composição das perguntas seguiu Spradley (1979), contendo perguntas descritivas, estruturais e de contraste, na tentativa de abarcar a totalidade do do fenômeno. Os dados foram analisados a partir da Teoria da Codificação por Corbin e Strauss (1990).

A análise dos resultados compreende primeiramente as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores negros no desenvolvimento de seus negócios, especificamente o racismo estrutural e o contexto de vida vulnerável. Após, reflete-se sobre os pilares de superação dos empreendedores negros, a partir de suas trajetórias de vida e experiências, mostrando o que os fazem continuar a empreender e, por fim, discute-se o resultado encontrado de que os empreendedores negros que possuem negócios afrocentrados buscam atrelar responsabilidade social para além do lucro em seus negócios.

Conclui-se que o empreendedorismo negro é um empreendedorismo de resistência, no sentido de que, mesmo com barreiras superiores à de empreendedores brancos no desenvolvimento de seus negócios, por sofrerem com o racismo estrutural e um contexto de vida vulnerável, as pessoas negras resistem e continuam a empreender em função do background resiliente formado por suas experiências e trajetórias de vida. Para além do lucro, empreendedores negros que possuem negócios afrocentrados agregam uma responsabilidade social em seus empreendimentos, preocupados em proporcionar algum retorno à comunidade.

Balog, D. L. T., & Zouain, D. M. (2022). Mulheres empreendedoras sociais pretas no Rio: impactos pós-pandemia. Trabalho apresentado no XLVI Encontro da ANPAD - EnANPAD 2022, On-line, 21-23 de set de 2022. Almeida, A. S. M. (2013). Consumo e identidade: a produção para o consumo a partir dos insights dos empresários negros. In J. C. Nogueira (Org.), Desenvolvimento e empreendedorismo afro-brasileiro: desafios históricos e perspectivas para o século 21 (pp. 241-274). Florianópolis: Atilènde.