Resumo

O setor metalúrgico possui expressiva importância no cenário econômico brasileiro. Embora tradicional, a atividade metalúrgica se encontra diante de pressões ambientais e de mercado em função do avanço da tecnologia e de aspectos relacionados à sustentabilidade, que promovem e incentivam mudanças na indústria. A expectativa é de que o setor busque a aplicação de novas tecnologias com vistas à processos de produção sustentáveis e produtos de alto desempenho (Carvalho et al., 2017). Nesse contexto de busca por soluções sustentáveis, a economia circular (EC) vem ganhando força nos últimos anos.

Em função da natureza das matérias-primas, o setor metalúrgico apresenta potencialidade de adesão e crescimento em um sistema de EC. Apesar dos potenciais benefícios da EC para a sustentabilidade do setor, estudos nacionais a respeito dessa temática são restritos a setores aderentes a metalurgia. Busca-se preencher essa lacuna de pesquisa com o presente estudo, que tem por objetivo propor um framework teórico para implantação da EC no setor metalúrgico, respondendo à seguinte pergunta de pesquisa: que processos são necessários para promover a implantação da EC em empresas do setor metalúrgico?

O conceito de sustentabilidade pautado no equilíbrio dos aspectos ambiental, econômico e social, o “Triple Bottom Line”, foi criado por Elkington (1994). Em um cenário de busca por negócios mais sustentáveis, tem se observado dois termos em evidência: ESG e Economia Circular (EC). Na prática, os três conceitos estão conectados: a EC é vista como uma condição para a sustentabilidade (Geissdorfer et al., 2017) e uma das cinco tendências observadas para o futuro do ESG (Mascotto, 2020).

A elaboração do framework se deu mediante coleta de dados em múltiplas fontes. Boas práticas de sustentabilidade e ESG alinhadas ao framework ReSOLVE da EC foram mapeadas junto às empresas integrantes do ISE da B3, por meio de pesquisa documental nos Relatórios de Sustentabilidade e websites, associada à aplicação de uma survey. Um estudo de caso múltiplo foi conduzido com três empresas do ISE B3 que já adotam a EC, com as quais aplicou-se entrevistas. A partir do mecanismo de benchmarking, foi elaborado o framework teórico a partir do reconhecimento da realidade de uma indústria metalúrgica.

Os resultados da pesquisa indicam que os processos fundamentais para a transição para a EC compreendem o engajamento dos líderes e da alta direção, a sensibilização, capacitação e engajamento total dos colaboradores, a identificação de gaps no processo produtivo, o monitoramento de indicadores, e a comunicação e transparência com os stakeholders.

Foi possível concluir que a EC é um sistema de produção capaz de ser adequado a realidades organizacionais distintas, identificando-se especificamente no setor metalúrgico, potencial de geração de novos negócios circulares a partir do reaproveitamento de aparas de materiais metálicos.

Carvalho, P. S. L., Mesquita, P. P. D., & Cardarelli, N. A. (2017). Panoramas Setoriais 2030 – Mineração e Metalurgia. Brasília, DF: BNDS. Elkington, J. (1994) Towards the Sustainable Corporation: Win-Win-Win Business Strategies for Sustainable Development. California Management Review, 36, 90-100. Geissdoerfer, M., Savaget, P., Bocken, N., & Hultink, E. (2017). The circular economy −a new sustainability paradigm? Journal of Cleaner Production. 143, 757–768. Mascotto, G. (2020). ESG Outlook: Five Key Trends Are Driving Momentum in 2020. American Century Investments, 1-7.