Resumo

A liderança tem importância crucial no ambiente de negócios atual, pois pode trazer uma vantagem competitiva para as organizações, ao criar condições para o engajamento das pessoas (JHA, 2019). No entanto, as pessoas estão deixando as organizações por causa da relação com os gestores; um em cada dois funcionários já deixou um emprego em algum momento da carreira em função de um mau gestor (GALLUP, 2017). Nesse contexto, os modelos de desenvolvimento de lideranças devem estar alinhados às necessidades atuais das organizações, promovendo e fortalecendo o engajamento das pessoas e das equipes.

As teorias tradicionais de liderança enfatizam o poder centralizado no líder, embora os desafios atuais das organizações estejam relacionados às influências dos paradigmas pós-modernos, que pressupõem relações de poder mais igualitárias entre líderes e liderados. Isso pode explicar o desengajamento das pessoas, que optam, em muitos casos, pelas saídas voluntárias das empresas. Este ensaio teórico visa propor reflexões sobre abordagens para o desenvolvimento de lideranças por meio de um olhar pós-moderno, com base no pensamento de Foucault, entendendo-se a liderança como um processo relacional.

Apesar dos avanços significativos na pesquisa sobre liderança, o campo ainda está repleto de áreas para o avanço da literatura sobre a relação entre teorias de liderança e teorias de desenvolvimento de liderança, a fim de abordar ou superar desafios enfrentados pelas organizações de hoje (MEGHEIRKOUNI; MEJHEIRKOUNI, 2019). As abordagens de liderança, em sua maioria, são racionalistas, acreditando no conhecimento e poder exercido pelos líderes para controlar o ambiente. Além disso, tendem a ser universalistas e prescritivas, com a aplicação de modelos e soluções importadas (McCLELLAN, 2022a).

Embora os principais desafios contemporâneos das organizações estejam relacionados às influências dos paradigmas pós-modernos, ainda se utilizam teorias e modelos de desenvolvimento de lideranças, predominantemente racionalistas, universalistas e prescritivos. Isso pode explicar o desengajamento das pessoas, que decidem, em muitos casos, pelas saídas voluntárias das empresas. Na maioria das vezes, as pessoas, na verdade, estão deixando seus líderes, insatisfeitas pela relação que se estabelece entre líderes e liderados, na qual o poder é exercido de maneira predominante pelos líderes.

Para que os líderes possam criar espaços de trabalho onde as pessoas tragam o seu melhor para o ambiente de trabalho, se sentindo empoderadas, incluídas e valorizadas, torna-se necessário também repensar os modelos de desenvolvimento de lideranças. Nesse sentido, uma abordagem à luz de Foucault, visando o desenvolvimento de comportamentos de liderança como um processo relacional mais equilibrado e não apenas centrado no papel hierárquico e formal da liderança, pode configurar uma alternativa interessante para o desenvolvimento pessoas e de lideranças em todos os níveis da organização.

HIGGS, M. Reflections: Insomnia? Try Counting Leadership Theories, Journal of Change Management, v. 22, n. 4, p. 355-372, 2022. McCLELLAN, J. Addressing the problem of global leadership theory: proposing a cognitive process model for leadership training and development. European Journal of Training and Development, v. 46 n. 5/6, p. 607-626, 2022a. BEST, S., KELLNER, D. Foucault and the Critique of Modernity. In: Postmodern Theory. Communications and Culture. Palgrave, London, 1991, p. 34-75. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 13ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Edições Graal. 1979.