Resumo

Título do Artigo

A GESTÃO QUE NÃO OUSA DIZER SEU NOME: GOVERNANÇA COMO CONDUÇÃO DO TRABALHO DE INFLUENCIADORES EM PLATAFORMAS DE MÍDIA SOCIAL
Abrir Arquivo
Ver apresentação do trabalho
Assistir a sessão completa

Palavras Chave

plataformas digitais
mídia social
influenciador

Área

Gestão de Pessoas

Tema

Bem-estar e Mal-estar no trabalho

Autores

Nome
1 - Liana Haygert Pithan
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
2 - Lisiane Quadrado Closs
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO (EA/UFRGS)

Reumo

Plataformas digitais não são espaços neutros para livre interação humana, mas infraestruturas digitais criadas por empresas para permitir, facilitar e moldar atividades de usuários e complementadores que produzem os recursos centrais para o negócio. O lucro advém da retenção de taxas de intermediação de transações, como aplicativos de entrega, ou da coleta de dados do usuário para vender a anunciantes, como as mídias sociais. Assim, o modelo de negócio de mídias sociais depende inteiramente que pessoas externas à organização executem tarefas centrais à produção de riqueza.
Baseadas em conteúdo produzido por usuários, as mídias sociais extraem valor de práticas que se apresentam como lazer. Mas todo trabalho em meio organizacional é gerido, mesmo que não se reconheça como tal. Porém, a literatura sobre gestão em plataformas digitais é incipiente. Recentemente popularizada, a expressão gestão algorítmica do trabalho é inapropriada e simplista, incapaz de iluminar o que é gestão, quem a exerce e por quê. Este ensaio oferece um framework conceitual sobre a governança como meio de gestão do trabalho de usuários de mídias sociais.
Recorremos a autores dos chamados estudos de plataforma e estudos críticos de algoritmo, ambos transdisciplinares, além de pesquisas sobre o tema de administração e ciências sociais para abordar as plataformas como infraestruturas, mercados e organizações. Depois, tratamos das especificidades de mídias sociais, sua governança e o trabalho por plataforma, temas predominantemente estudados por acadêmicos de sociologia e mídia. Após, argumentamos que a governança atua como gestão do trabalho e demonstramos evidências disso em constatações de estudos empíricos sobre criadores e influenciadores.
A agência reside nas organizações proprietárias de plataformas. Elas que criam plataformas como espaço para terceiros produzirem aquilo que será extraído e convertido no valor central de seu modelo de negócio. Visto dessa forma, é evidente que os usuários produzem o que é convertido em lucro pelas empresas. Mas a gestão dos trabalhadores, sobretudo o trabalho criativo, requer mecanismos indiretos que não destituam sua ilusão de autonomia, tampouco comprometam a autoimagem propagada pelas empresas, que se dizem meros intermediários tecnológicos, neutros e objetivos, que facilitam transações.
É preciso ver plataformas digitais como formas organizacionais, mesmo aquelas em que o lazer é simultâneo à produção de valor. Ainda são raras as investigações sobre como as empresas dirigem atividades centrais ao seu negócio feitas por quem, muitas vezes, não é visto como trabalhador. Subgrupo de usuários que monetizam as atividades digitais por sua alta “produtividade”, influenciadores e suas práticas se tornam exemplos. Assim, aspirantes à carreira, na expectativa de recompensa futura, fornecem um ciclo contínuo de trabalho gratuito e desde o início já direcionado aos valores das empresas.
DOLATA, U,; SCHRAPE, J. Platform companies on the internet as a new organizational form. A sociological perspective. Innovation: The European Journal of Social Science Research, p. 1–20, 2023. GARCIA CALVO, A.; KENNEY, M.; ZYSMAN, J. Understanding work in the online platform economy. Industrial and Corporate Change, p. 1–42, 2023. POELL, T.; NIEBORG, D.; DUFFY, B. E. Platforms and Cultural Production. Cambridge: Polity Press, 2022. VALLAS, S.; SCHOR, J. B. What do platforms do? Understanding the gig economy. Annual Review of Sociology, v. 46, n. 1, p. 273–294, 2020.