Resumo

Segundo França Filho e Laville (2004), as experiências de Economia Solidária compõem o campo de experiência e prática de iniciativas coletivas. Estas estão vinculadas a um conjunto de alternativas que se baseiam na melhora da qualidade de vida da população de uma comunidade. As práticas de finanças solidárias que atuam nesse espaço são desenvolvidas principalmente pelos Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCD), que atuam visando à facilitação do acesso ao crédito e na oferta de outros serviços financeiros aos moradores locais, pautadas nas relações de proximidade, confiança e solidariedade

O Banco Comunitário União Sampaio, localizado no bairro do Jardim Maria Sampaio, em São Paulo, foi escolhido para a investigação. Contudo, diversos fatores imprevistos na pesquisa emergiram em relação ao acesso dos pesquisadores a essa organização. A persistência dessa dificuldade nos fez reorientar os objetivos de pesquisa inicialmente propostos. Dessa forma, o estudo foi reorientado para um novo objetivo: compreender quais os fatores percebidos pelos pesquisadores que evidenciam as dificuldades para acessar os sujeitos de pesquisa dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento.

Os BCDs podem ser definidos como uma prática de finanças solidárias que prestam apoio, através de seus serviços, às economias locais com baixo índice de desenvolvimento humano. Essas iniciativas se constituem a partir de “dinâmicas associativas locais” e que utilizam variados instrumentos para gerar e ampliar a renda do território onde atuam (FRANÇA FILHO; SILVA JÚNIOR, 2009).

A pesquisa realizada é de natureza teórico-empírica, com abordagem qualitativa, de tipo exploratória e descritiva, com estratégia de pesquisa definida como relato de experiência.O processo de discussão do estudo foi produto das interações entre a estrutura teórica, o relato de experiência e os potenciais pressupostos de influência do fenômeno. Com base nisso, foi possível analisar os desdobramentos decorrentes da dificuldade em realizar as entrevistas e observações diretas com os Bancos Comunitários.

As discussões propostas pelo estudo mostram que o período entre as tentativas de contato com os Bancos Comunitários (2021-2022) foi marcada pelos pelos impactos causados pela pandemia de Covid-19, tendo seus maiores efeitos incididos, sobretudo, àqueles que historicamente já estavam expostos à vulnerabilidade social. O estudo identificou que há uma dificuldade por parte dos Bancos Comunitários de acesso a recursos orçamentários que inviabilizam suas ações, além da dificuldade técnica de submeter seus projetos aos escassos editais públicos.

A dificuldade de acesso dos pesquisadores desta pesquisa aos sujeitos e organizações que atuam nos BCDs resultou das transformações impostas pela crise epidemiológica, socioeconômica e política do país, que incidiu nas organizações mais vulneráveis e de seus atores, tendo em vista suas inserções territoriais, em sua maioria, no contexto das periferias. A precarização dessas organizações gerou resistência de interlocução entre os seus colaboradores e moradores locais com os pesquisadores, fato esse não revelado durante as diversas tentativas de aproximação com essas organizações e seus sujeitos

FRANÇA FILHO, G. C. Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCD's) como expressão de Finanças Solidárias: por uma outra abordagem da inclusão financeira. 1. ed. Fortaleza - Ceará: Arte Visual, 2013. FRANÇA FILHO, G. C. de; LAVILLE, Jean-Louis. Economia solidária: uma abordagem internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004 FRANÇA FILHO, Genauto C.; SILVA JÚNIOR, Jeová T. Bancos comunitários de desenvolvimento. In: CATTANI, Antonio D. et al. Dicionário internacional da outra economia. 1. ed. Coimbra: Edições Almedina, 2009. v. 1, p.31-36.