Resumo

Título do Artigo

Quem cala, consente? Um estudo com trabalhadores terceirizados em uma Universidade Pública
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Palavras Chave

Consentimento Organizacional
Terceirização
Vínculos Organizacionais

Área

Gestão de Pessoas

Tema

Valores, Sentidos e Vínculos no/do trabalho

Autores

Nome
1 - Adolfo de Alencar Melo Júnior
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Programa de Pós-Graduação em Administração - PROPAD
2 - Diogo Henrique Helal
Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ - Diretoria de Pesquisas Sociais - DIPES
3 - Síria Freire de Paula
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - CFCH

Reumo

Analisando o contexto brasileiro, observa-se que a consolidação da prática terceirizadora, especialmente após a reforma trabalhista de 2017, tem acentuado a fragilidade dos vínculos trabalhistas (Junior & Ferreira, 2020). Como estratégia de redução de custos por parte das organizações, a terceirização altera o ambiente das relações humanas no trabalho, agindo diretamente sobre a interação social e profissional dos indivíduos e, portanto, tornando-se um importante tema de estudo (Rodrigues et al., 2020).
Este trabalho objetiva explorar o consentimento organizacional em trabalhadores terceirizados numa instituição federal de ensino superior. Para tanto, buscar-se-á compreender se o vínculo é, de fato, reflexo do comportamento humano dentro da organização ou confunde-se como estratégia de sobrevivência desses atores ante o cenário econômico de incertezas e precariedade, haja vista a instabilidade e insegurança geradas pelo processo de terceirização (Massi, 2022). Objetiva-se ainda compreender o vínculo entre trabalhador e empresas ante sua dupla vinculação trabalhista.
Entende-se que, para além da precarização, a terceirização traz consigo outras questões ligadas a dimensões do comportamento organizacional, que ganham particularidades quando postas em evidências as relações de trabalho advindas da prática. Por terem um duplo vínculo empregatício – com a empresa contratante e com a empresa contratada (Sobral et al., 2019), questões ligadas ao suporte organizacional (ou a ausência dele) e aos vínculos organizacionais merecem maior atenção. Esta última, especialmente o consentimento organizacional, é questão de interesse deste artigo.
Pesquisa de abordagem qualitativa, realizada por meio de entrevistas semiestruturadas. Os dados foram analisados por meio de Análise de Conteúdo associada à Análise Lexicométrica com o auxílio do software IRaMuTeQ que, ancorado no programa estatístico R, gera dados a partir de textos e tabelas (Klant & Santos, 2021). O IRaMuTeQ analisa a coocorrência de palavras organizando, assim, a estrutura da palavra no texto, suas ligações e outras características textuais e de variáveis relevantes no ambiente do texto.
O que parece ficar evidente é a aceitação da regra (ou norma) como norteadora da atividade. Se há que se falar em consentimento, deve-se ligar ao construto à função executada, e não às organizações. Uma busca sobre o significado do verbo consentir tem por resultado “não por obstáculo” ou “condescender”, que por sua vez é a renúncia à sua dignidade. Tal submissão não se mostra entre os participantes da pesquisa e, para esta amostra, não se acredita ser possível falar em consentimento, ao menos nos termos do construto aceitos até aqui.
A partir dos dados levantados pode-se depreender que quem cala não está consentindo, mas apenas se mantendo empregado diante da insegurança inerente à função produtiva que ocupa. De maneira geral, os trabalhadores entrevistados entendem que a obediência às regras e, por conseguinte, a quem as ordena, é uma salvaguarda ao seu emprego. Seria, então, o consentimento organizacional um construto válido? As pesquisas apontam que sim, mas é preciso que se investigue o construto sob outros prismas que não o do comportamento organizacional.
Junior, S. D. G., & Ferreira, J. B. de O. (2020). Terceirização, saúde e resistências: Provocações ético-políticas à psicologia social do trabalho em contexto de precarização subjetiva. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 23(2), Artigo 2. Vital, M. S., & de Paiva, K. C. M. (2019). Qualidade de vida no trabalho e vínculos organizacionais: Proposição de um modelo integrativo e perspectivas de pesquisas. Gestão & Planejamento - G&P, 20(0). Tomazzoni, G. C., & Costa, V. M. F. (2020). Vínculos organizacionais de comprometimento, entrincheiramento e consentimento: Explorando seus antecedentes