Resumo

Título do Artigo

A lugarização da universidade pública a partir da experiência de alunos cotistas da UNIFAL/MG
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Palavras Chave

política de cotas
raça
lugarização

Área

Administração Pública

Tema

Gestão e Inovação em Políticas Públicas

Autores

Nome
1 - Barbara Negrini
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG) - VARGINHA
2 - Adílio Renê Almeida Miranda
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG) - Instituto de Ciências Sociais Aplicadas

Reumo

A Lei n° 12.711/12 destinou de 50% das vagas das instituições federais de ensino para alunos oriundos de escolas públicas mediante o preenchimento de critérios socioeconômicos, raciais e pessoas com deficiência. Após quase dez anos de vigência, caminhando para a iminente revisão legislativa da lei de cotas, prevista para 2022, essa política foi avaliada de uma perspectiva local, por meio da perspectiva de alunos cotistas, considerando-se o conceito de lugar antropológico, proposto pelo francês Marc Augé (2012) para analisar a lugarização da universidade.
Problema de pesquisa: Quais os efeitos da lei de cotas n° 12.711/12 para a lugarização da universidade, numa perspectiva local? Objetivo geral: Compreender os efeitos da lei de cotas para a lugarização da universidade, numa perspectiva local, por meio da análise de relatos de egressos cotistas com critério racial, utilizando o conceito de lugar antropológico, proposto pelo francês Marc Augé (2012).
O conceito de não-lugar de Augé (2012), “se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá o não-lugar” (AUGÉ, 2012, p. 73) foi utilizado para analisar se as instituições de ensino superior podem ser um lugar para algumas pessoas e um não-lugar para outras, concomitantemente, a depender de fatores como o tempo, a intensidade das experiências, as relações estabelecidas e as vivências dos sujeitos.
Esta pesquisa utilizou de técnicas de coleta e análise de caráter qualitativo. Foram selecionados 22 participantes que por meio de preenchimento de formulário, se disponibilizaram para a participação da pesquisa. Utilizou-se um roteiro par conduzir as entrevistas; as entrevistas semiestruturadas foram realizadas virtualmente, na plataforma Google Meet e conduzidas pela pesquisadora. O áudio foi captado utilizando-se o software OBS Studio, para fins de transcrição, viabilizando a análise de conteúdo temática.
a) Com os resultados do presente estudo, foi possível constatar que o ambiente universitário, embora diversificado em decorrência da Lei de cotas n° 12.711/12, não se trata de um ambiente neutro ou harmônico no que se refere às relações raciais, pois, embora estimule tais discussões e assuma uma postura antirracista, os alunos ainda são atingidos nesse ambiente pelas mais variadas formas de discriminação racial; b) Observou-se, por meio dos relatos, que muitos egressos cotistas, antes de cursarem a graduação, não tinham uma percepção identitária, isto é, uma consciência racial.
A universidade, por meio da Lei n° 12.711/12, passou e passa paulatinamente por um processo de lugarização. Ela ainda está em construção do ponto de vista relacional, histórico e identitário. Ao mesmo tempo, ela ainda se apresenta como um não-lugar, quando se observa em seu espaço o racismo estrutural e episódios de discriminação racial. As experiências vividas na universidade pública analisada, a partir de uma perspectiva local, evidenciam que as estruturas estão sendo modificadas. No entanto, as marcas do racismo estrutural ainda se encontram nesse ambiente.
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019. E-book. AUGÉ, Marc. Não-Lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. 9. ed. Campinas: Papirus, 2012. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BARROS, Roberto. Racismo e os não lugares da corporeidade preta. Revista Afirmativa: colunistas, [S. l], set. 2020. Disponível em: https://revistaafirmativa.com.br/3302-2/. Acesso em: 2 nov. 2020. SILVA, Tatiana Dias. Ação afirmativa e população negra na educação superior: acesso e perfil discente. Brasília, DF: Ipea, 2020. (Texto para discussão).