O Raciocínio Metacognitivo em Processos de Julgamento e Tomada de Decisão: um estudo a partir de uma tarefa decisória ambientada no contexto de Covid-19
Processo Decisório
Reflexão Cognitiva
Teoria do Processo Dual
Área
Estudos Organizacionais
Tema
Comportamento Organizacional
Autores
Nome
1 - Larissa Alves Sincorá UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm-UFES)
2 - Marcos Paulo Valadares de Oliveira UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - CCJE
3 - Hélio Zanquetto Filho UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - CAMPUS GOIABEIRAS
4 - Simone da Costa Fernandes UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - Campos Goiabeiras
Reumo
Ao estudar as perspectivas comportamentais da tomada de decisão, observa-se que os aspectos cognitivos também podem afetar o comportamento dos agentes envolvidos no processo decisório. O acúmulo de pesquisas nas ciências sociais aplicadas evidencia que não há como negligenciar os fatores subjetivos e os diferentes estilos de tomada de decisão. Assim, ao considerar as diferenças entre decisões intuitivas e analíticas em Decision-Making, tem-se na Teoria do Processo Dual (TPD) (Kahneman, 2011) os fundamentos que lançam as bases para essa corrente discussão.
Desse modo, um estudo foi estabelecido para examinar o julgamento metacognitivo (FOR), a capacidade cognitiva, bem como o engajamento analítico dos indivíduos, a partir do chamado Paradigma de Duas Etapas (Thompson et al., 2011). Sendo assim, este estudo objetivou: (1) examinar se o FOR prediz o engajamento analítico nos indivíduos cognitivamente "mais reflexivos" e "menos reflexivos" na tomada de decisão; e (2) verificar se indivíduos cognitivamente "mais reflexivos" são melhores (ou seja, mais efetivos) no monitoramento e controle do raciocínio do que sua contraparte "menos reflexiva".
Na Teoria do Processo Dual, tem-se que o raciocínio do indivíduo pode ser representado por dois tipos qualitativamente diferentes de processos: os processos automáticos do Tipo 1 (intuitivos), que indicam uma resposta inicial a um problema e; que pode ou não ser posteriormente analisada por processos deliberados do Tipo 2 (analíticos). Adicionalmente, a perspectiva Metacognitiva do processo dual, avança ao discutir que o monitoramento e controle do raciocínio podem ser explicados, pelo menos em parte, por uma experiência metacognitiva, que acompanha a produção de uma resposta inicial.
Partindo-se desses propósitos e motivações teóricas gerais expostas, uma pesquisa de abordagem experimental (Field & Hole, 2003) fora conduzida, envolvendo uma tarefa decisória relativa à Gestão Operacional de um Negócio de Vendas de Sanduiches ambientado no contexto da pandemia de Covid-19. Isto posto, o desenho experimental visou atestar os efeitos da influência relativa da variável pressão do tempo no Paradigma de Duas Etapas, com vistas a atender aos objetivos da pesquisa. Por fim, a amostra de característica não probabilística (Cozby, 2003), obteve 432 respostas.
Os achados obtidos com o estudo, evidenciam que o nível de reflexão cognitiva do indivíduo (ou seja, mais reflexivo ou menos reflexivo) contribui para explicar a força de seu julgamento metacognitivo (FOR) e, por conseguinte, seu desempenho decisório na tarefa experimental (H2), indicando implicitamente que uns tendem a se engajar mais analiticamente, enquanto outros, menos; embora não tenha sido possível capturar em que medida esse engajamento analítico acontece dentro de cada um dos dois grupos de perfil cognitivo investigado (H1).
Portanto, mediante ao atendimento dos objetivos propostos e dos resultados evidenciados com o teste das hipóteses teóricas, foi possível concluir que a reflexão cognitiva, tida como uma característica psicológica acerca de como o indivíduo conduz o seu processamento de informações durante episódios que envolvem escolhas e decisões, influencia diretamente na forma como o sujeito lida com a sua carga analítica e intuitiva dentro do processo decisório; bem como na ‘calibragem’ de seu raciocínio metacognitivo (FOR); além de se constituir em um importante preditor de desempenho na tarefa aplicada.
- Frederick, S. (2005). Cognitive Reflection and Decision Making. Journal of Economic Perspectives, 19(4), 25–42.
- Hodgkinson, G. P., & Sadler-Smith, E. (2018). The Dynamics of Intuition and Analysis in Managerial and Organizational Decision Making. Academy of Management Perspectives, 32(4), 473–492.
- Kahneman, D. (2011). Rápido e Devagar: duas formas de pensar (C. de A. Leite (ed.); 1st ed.). Objetiva.
- Thompson, V. A., Prowse Turner, J. A., & Pennycook, G. (2011). Intuition, reason, and metacognition. Cognitive Psychology, 63, 107–140.