Cana-de-açúcar
Mecanização agrícola
Teoria das Representações sociais
Área
Estudos Organizacionais
Tema
Simbolismos, Culturas e Identidades
Autores
Nome
1 - JOSE RODOLFO TENÓRIO LIMA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS (UFAL) - Campus Arapiraca
2 - ROSEMEIRE APARECIDA SCOPINHO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR) - Departamento de Psicologia
Reumo
A modernização agrícola por meio da mecanização da colheita apresenta-se como uma realidade em expansão nos canaviais do Brasil. A substituição do trabalho manual pelo mecanizado tem implicações diretas nos processos de trabalho. Muito já se sabe sobre o que é modernização na perspectiva empresarial, porque os empresários modernizam e que impactos as formas hegemônicas de implantá-la provocam para os trabalhadores. Pouco se sabe sobre o significado da modernização para os sujeitos que são impactados diretamente por tais ações.
Este artigo parte da seguinte questão: Como os operadores de máquinas agrícolas interpretam e atribuem significados ao processo de mecanização agrícola que vem ocorrendo nos canaviais? A proposta é a de compreender como a subjetividade dos canavieiros foi afetada pela nova realidade, ou seja, dar ouvidos aos trabalhadores que vivenciam essa mudança a partir do trabalho de operar máquinas agrícolas.
A Teoria das Representações Sociais foi a escolha teórica realizada para ajudar na compreensão das subjetividades dos trabalhadores sobre a mecanização ocorrida nos canaviais. Existem três abordagens teóricas que se desenvolveram a partir da Teoria das Representações Sociais: a abordagem estrutural, a abordagem societal e a abordagem processual. Aqui, opta-se pela abordagem processual que se destaca nos trabalhos de Denise Jodelet. A abordagem processual entende as representações sociais como um produto da interação entre o sujeito e o ambiente no qual ele está inserido.
O percurso metodológico foi baseado na abordagem qualitativa. O campo da pesquisa foi o estado de Alagoas. As informações foram levantadas a partir de entrevistas e incursões a campo. A análise valeu-se do confronto e da complementariedade entre as informações provenientes das fontes primárias com a bibliografia de referência selecionada e dados secundários.
Foram realizadas 14 entrevistas com operadores de máquinas agrícolas. As entrevistas não seguiram um roteiro semiestruturado, pois o objetivo era ouvir os trabalhadores sobre como eles percebiam e teorizavam o fenômeno.
Os achados permitem indicar que as máquinas possibilitaram melhorias nas condições de trabalho e vida, lado “doce”, dos que estavam na condição de operadores, em compensação, trouxe o desemprego, o lado “duro”. Assim sendo, esse olhar lançava uma análise crítica sobre o fenômeno da mecanização ocorrida nos canaviais, visto que tentava perceber que uma determinada ação possui múltiplas implicações. Por isso, o uso do ditado popular que se referia à rapadura e tentava expressar a multidimensionalidade dos fenômenos foi utilizado: “É doce, mas não é mole, não!”.
Discutir mecanização agrícola é debater um caminho que possibilite erradicar um trabalho desumano como é o corte da cana-de-açúcar, porém, sustentando a reprodução social daqueles que dependem do trabalho para sobreviver. Pensar um processo de modernização que seja mais “doce” e menos “duro” deve, fundamentalmente, considerar também a transformação das relações e condições de trabalho. Caso contrário, estaremos reproduzindo o processo que já foi denominado de “modernização conservadora” o que, certamente, só é doce para o capital.
MOSCOVICI, S. Representações Sociais: Investigações em psicologia social. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
JODELET, D. O movimento do retorno ao sujeito e a abordagem das representações sociais. Sociedade e Estado, v. 24, no. 3, p. 679-712, set/dez, 2009.
JODELET. D. Loucuras e representações sociais. Rio de Janeiro 2 ed. Petrópolis, Vozes, 2015.