Resumo

O idoso vem se tornando público-alvo das ofertas de crédito, muitas vezes utilizadas de modo irresponsável (de Souza & Moretto, 2014). O descontrole na utilização do crédito e a incapacidade de poupança podem vir a impactar também na preparação para a aposentadoria e bem-estar financeiro (Lusardi & Mitchell, 2014). Assim, a preparação para aposentadoria (PA) e o bem-estar financeiro são influenciados por diversos fatores como a saúde, estado civil, educação financeira, renda, entre outros (Kim, 2020).

Compreender o impacto do endividamento e da preparação financeira para aposentadoria na percepção de bem-estar financeiro sob a ótica do indivíduo idoso, sendo ele aposentado ou não, é uma oportunidade para contribuir com o debate e com o avanço teórico sobre os três pilares desta pesquisa. Desta forma, o objetivo deste trabalho é desenvolver um modelo para análise dos impactos da preparação financeira para aposentadoria e a propensão ao endividamento sobre o nível de bem-estar financeiro dos indivíduos idosos.

Nessa pesquisa existe um tema central a ser estudado: a percepção de bem-estar financeiro (BEF) e outros dois fatores comportamentais como antecedentes: propensão ao endividamento e preparação financeira para aposentadoria. O modelo teórico da pesquisa estabelece as hipóteses “H1” e “H3” relativas ao impacto negativo da propensão ao endividamento sobre a percepção de bem-estar financeiro e a preparação financeira para aposentadoria. Já a hipótese “H2”, indica que a preparação financeira para aposentadoria impacta positivamente o nível de percepção de bem-estar financeiro.

Foi realizada uma pesquisa do tipo survey, com brasileiros de idade igual ou superior a 60 anos de idade, totalizando uma amostra de 885 idosos. O instrumento para realização da pesquisa foi composto por questões de múltipla escolha para o mapeamento do perfil do indivíduo. Além de itens do tipo likert, para mensuração da preparação financeira para aposentadoria, percepção de bem-estar financeiro e propensão ao endividamento. Iniciou-se com a Análise Fatorial Confirmatória para validação dos construtos e para a estimação do modelo teórico foi utilizada a Modelagem de Equações Estruturais.

Foram confirmadas as três hipóteses da pesquisa. A primeira (H1), mostra que a propensão ao endividamento tem impacto negativo sobre a percepção de bem-estar financeiro. Coeficiente que corrobora com a questão do endividamento tratada por Abrantes Braga e Veludo de Oliveira (2020). O resultado da H2 confirma que quanto maior o nível de preparação financeira para aposentadoria, maior é o nível de percepção de bem-estar financeiro. Já na última hipótese (H3) tem-se a confirmação da relação negativa entre propensão ao endividamento e preparação financeira para aposentadoria.

Os resultados obtidos indicam que é imperioso que os formuladores das políticas públicas elaborem programas sociais que visem e apoiem os idosos na gestão adequada de sua renda e dívidas, podendo impactar positivamente no bem-estar financeiro e na saúde pública como um todo, visto que estudos atuais associam o endividamento excessivo a sintomas depressivos e ao suicídio entre os idosos (Adinkrah, 2020).

Abrantes Braga, F. D. M. A., & Veludo de Oliveira, T. (2020). Help me, I can’t afford it! Antecedents and consequence of risky indebtedness behaviour. European Journal of Marketing, 54(9), 2223–2244. Adinkrah, M. (2020). Characteristics of elderly suicides in Ghana. Omega, 82(1), 3–24. Kim, J.-J. (2020). A study on influence of economic preparation for later life after retirement. Journal of Asian Finance Economics and Business, 7(5), 279–290. Lusardi, A., & Mitchell, O. S. (2014). The economic importance of financial literacy: Theory and evidence. Journal of Economic Literature, 52(1), 5–44.