Resumo

O agronegócio avança em direção a novas tecnologias e pauta a discussão sobre à inovação no setor (Leo et al., 2022). Inovar é uma tarefa difícil para empreendedores rurais realizarem individualmente, isto é, sem relações de cooperação com outros atores (Mikhailov et al., 2021). Portanto, é relevante compreender como e por que o processo inovador está cada vez mais incorporado na ideia de relações interorganizacionais e interpessoais (Fischer et al., 2022), sendo que estudiosos demonstraram interesse pelo tema a partir da lente dos ecossistemas de inovação.

O tema ecossistemas de inovação é emergente na academia, de modo que se considera pertinente abordá-lo no agronegócio, visto que a literatura ressalta a necessidade tanto de um trabalho conceitual mais robusto quanto de uma maior quantidade de estudos empíricos (Fischer et al., 2022). Frente a isso, traçou-se como objetivo do estudo analisar a percepção das empresas rurais quanto às interações entre atores, atividades e artefatos da olivicultura e da vitivinicultura na região Campanha Gaúcha, à luz da abordagem dos ecossistemas de inovação.

A fundamentação teórica do estudo abrange a abordagem dos ecossistemas de inovação, apresentando o modelo teórico de Granstrand e Holgersson (2020) que serviu como base para a análise dos dados empíricos. O modelo contempla atores, atividades, artefatos, instituições e as relações complementares e substitutas para o desempenho inovador de um ou mais atores.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizando entrevistas semiestruturadas com seis empresas rurais da vitivinicultura e da olivicultura da região da Campanha Gaúcha. A análise dos dados, fundamentada a partir da técnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 2011), baseou-se em categorias de análise estabelecidas a priori a partir do modelo de Granstrand e Holgersson (2020). As categorias estabelecidas foram as seguintes: i) atividades e orquestração das relações; ii) atores; iii) artefatos; e iv) instituições.

Os atores se resumem principalmente aos produtores rurais e suas inter-relações, sendo que universidades e instituições governamentais são mencionadas, mas sem um papel preponderante ao desenvolvimento de ações e/ou políticas públicas ao agronegócio local que incentivem a cooperação. Nas atividades, evidenciam-se diferentes perfis de orquestração, seja com uma empresa focal ou com uma associação de produtores. Quanto aos artefatos, o foco está na redução de custos proporcionada pelas ações conjuntas, sem muito destaque para as trocas de conhecimentos (recursos intangíveis).

Foi possível identificar padrões para o surgimento de ecossistemas, nos quais a olivicultura e a vitivinicultura da Campanha Gaúcha ainda estão em estágio inicial quanto aos elementos “atores”, “atividades” e “artefatos”. Isso decorre, pois, não foi encontrada a presença de todas as características que definem um ecossistema de inovação, conforme o modelo de Granstrand e Holgersson (2020). Todavia, tal modelo nos permitiu identificar que a vitivinicultura e a olivicultura apresentam casos relevantes a serem desenvolvidos.

Fischer, B., Gomes, L., Bernardes, R. C., & Facin, K. (2022). Guest editorial Innovation ecosystems: new perspectives and the way forward. Innovation & Management Review. 19(1), 2-11. Granstrand, O., & Holgersson, M. (2020). Innovation ecosystems: A conceptual review and a new definition. Technovation, 90. Mikhailov, A., Oliveira, C., Padula, A. D., & Reichert, F. M. (2021). Californian innovation ecosystem: emergence of agtechs and the new wave of agriculture. Innovation & Management Review.