Resumo

Perspectiva Multinível (PMN) foca em processos de transição de longo prazo e na análise fatores de macro, meso e micro associados à trajetória sociotécnica de uma tecnologia. A utilidade da PMN tem sido ilustrada em muitos estudos de casos históricos de transições ao redor do mundo. Dentre os estudos brasileiros, identificou-se a pesquisa de Santos e Dias (2019), que descreveu as fases de evolução da trajetória vitivinícola do Pampa Gaúcho, assim como identificou quais os fatores estavam presentes em cada dessas fases.

Dada a característica descritiva do estudo de Santos e Dias (2019) e que há uma lacuna na Perspectiva Multinível de se compreender quais são os fatores necessários ao processo de transição de uma tecnologia e em quais níveis esses fatores operam em transições sociotécnicas (ZHANG 2016), elaborou-se a seguinte pergunta de pesquisa: Quais fatores foram necessários ao longo do processo de transição sociotécnica da Vitivinicultura gaúcha? Para isso foi realizado uma pesquisa com o objetivo geral de identificar os fatores necessários à trajetória sociotécnica dos vinhos do Pampa Gaúcho.

Geels (2002, 2005) e Geels e Schot (2007) explicam que as transições acontecem através da interação dos três diferentes níveis da PMN: paisagem, regime, nicho. Nesta perspectiva a trajetória inovadora depende de vários fatores. Geels (2005) distingue quatro fases do processo de transição de um nicho: experimentação, estabilização, resistência e substituição. A partir da revisão da literatura identificou-se um conjunto de fatores que podem contribuir em cada um dos níveis: paisagem, regime e nicho.

A metodologia escolhida foi de estudo de caso, baseado em entrevistas com questões fechadas e abertas e analisadas pelo método QCA, complementada por documentos com o propósito de corroborar e justificar os fatores necessários identificados na análise das entrevistas fechadas.

Na fase de experimentação e na fase de estabilização da tecnologia, um fator foi considerado necessário em cada fase (inicialmente no nível da paisagem e depois no nível do regime). Na fase de resistência da tecnologia, 12 fatores foram considerados necessários, cinco deles do nível do regime e sete deles do nível do nicho. Os fatores necessários são aqueles que apresentam indicadores de consistência elevado (X>= 80%).

Os resultados nos permitem concluir que os três níveis da trajetória sociotécnica são necessários no processo de evolução, indicando que não há um no qual sempre seja decisivo. Entretanto, há especificidades da necessidade dos níveis e fatores ao longo do processo de transição. A complexidade dos fatores cresceu na fase de resistência. Nessa fase, os fatores do nicho foram necessários, inclusive a formação de redes e atividades de gestão do nicho com vistas à identificação e aproveitamento de oportunidades e alinhamento dos esforços de aprimoramento do nicho.

KÖHLER, J., F. W. GEELS, F. KERN, J. MARKARD, A. WIECZOREK, F. ALKEMADE, F. et al. An agenda for sustainability transitions research: State of the art and future directions. Environmental Innovation and Societal Transitions, 2019. DOI: 10.1016/j.eist.2019.01.004. SANTOS, L. R. S. D.; DIAS, M. F. P. Fatores multiníveis da trajetória inovadora da vitivinicultura na campanha gaúcha. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, v. 12, n. 2, p. 409-434, 2019. ZHANG, M. Y. Meso-level factors in technological transitions: the development of TD-SCDMA in China. Research Policy, v. 45, n. 2, p. 546-559, 2016