1 - Raphaela Amaoka Bernardino UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (MACKENZIE) - São Paulo
2 - DARCY MITIKO MORI HANASHIRO UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (MACKENZIE) - Centro de Ciências Socias e Aplicadas - PPGA
Reumo
Os ritos e rituais fazem parte da vida social de todo e qualquer ser humano, independentemente, do tempo ou espaço que o mesmo esteja inserido (PEIRANO, 2003). Diante disso, é importante destacar que os rituais acolhem mais de uma manifestação cultural (BEYER; TRICE, 1987) o que permite um conhecimento rico e mais profundo sobre uma organização, transparecendo seus valores, crenças e costumes, estes que, por sua vez, são responsáveis por fortalecerem princípios organizacionais.
Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo "compreender o papel dos ritos e rituais de uma comunidade alternativa situada no Norte do Paraná na sustentação dos princípios da Autogestão". Para tanto, o estudo contemplará dois objetivos específicos cujo primeiro é: identificar princípios de Autogestão manifestos na rotina da organização; e o segundo, identificar as atividades que compõem os principais ritos e rituais da Comunidade.
Beyer e Trice (1987) defende que a cultura organizacional seja de alguma forma afirmada e comunicada aos membros desta cultura utilizam-se de mecanismos tangíveis. Nesse sentido, para os autores, as formas culturais como: ritos, rituais, mitos, sagas, histórias, símbolos, linguagem e artefatos, significam o “afloramento da cultura”. Considerando isso, temos as organizações autogeridas, que de acordo com Azambuja (2009, p.294) representam "a soma de práticas e saberes orientados por princípios e valores (solidariedade, igualdade, cooperação, autonomia, participação, democracia e etc)."
Quanto a abordagem da pesquisa optou-se pela qualitativa, uma vez que a sua característica principal é de que “os indivíduos constroem a realidade em interação com seus mundos sociais” (MERRIAM, 2002, p. 37). O trabalho se trata de um estudo interpretativo básico, que almeja descobrir e interpretar esses significados construídos pelos atores sociais (MERRIAM, 2002). E, é classificada quanto aos objetivos como descritiva. A Unidade de Análise deste trabalho se delimita aos ritos e rituais de uma Comunidade Doze Tribos. A construção dos dados se deu por entrevistas e análise de documentos.
A Doze Tribos preserva princípios da autogestão, principalmente, no âmbito econômico. No entanto, pudemos perceber que a cultura religiosa, embora preze pela cooperação, unidade, altruísmo, possuem vestígios de relações de subordinação entre os gêneros. Quanto aos ritos, os de integração são os mais recorrentes na Comunidade, isso porque, muitos dos rituais judeus partem de princípios e valores voltados a comunhão. Isto é, embora cada rito tenha um propósito para eles sagrados e ligados as suas crenças religiosas, os rituais estruturalmente contemplam a comunhão e a união.
No âmbito social, alguns aspectos da cultura não convergem com os princípios da Autogestão. Por outro lado, os princípios da autogestão em âmbito econômico puderam ser evidenciados, principalmente, pelo sistema de administração financeira que a Comunidade adota, isto é, pela Bolsa Comum. E, pela opção pela não remuneração, ou seja, o que a organização costuma denominar de voluntariado. Tanto a distinção com relação a remuneração e a recusa ao assalariamento são princípios de organizações autogestionárias e que se fazem presente nas Doze Tribos.
AZAMBUJA, L. R. Os valores da economia solidária. Sociologias, n. 21, p. 282-317, 2009.
BEYER, J. M.; TRICE, H. M. How an organization's rites reveal its culture. Organizational dynamics, v. 15, n. 4, p. 5-24, 1987.
FARIA, J. H. de. Autogestão, economia solidária e organização coletivista de produção associada: em direção ao rigor conceitual. Cadernos EBAPE. BR, v. 15, n. 3, p. 629-650, 2017.
FARIA, J. H. de. Gestão participativa: relações de poder e de trabalho nas organizações. Atlas, 2009.
MARTIN, J. Organizational Culture: mapping the terrain. London: Sage Publications, 2002.