Resumo

Os empreendedores são agentes econômicos de enorme importância social e quando realizam suas ações, trazem evidências de sua identidade, cujas orientações emergentes acabam embutidas nas lógicas institucionais do processo empreendedor, em uma interação entre a agência individual e a estrutura institucional. Pelo fato de a identidade ser essencial ao processo empreendedor, faz-se necessário abordar o tema dentro de um processo comportamental que evidencie sua importância para o conjunto do processo. Nesta perspectiva, a teoria da efetuação fornece as lentes teóricas ideais para tratar do tema.

É preciso estudar como a identidade influencia o desenvolvimento do comportamento efetual ao longo do tempo e como os meios efetuais se relacionam entre si e com o processo, explorando-se como os três meios efetuais (identidade, conhecimento e rede de relação) interrelacionam-se no processo empreendedor por efetuação. Diante disto, questiona-se: Como a identidade pessoal embasa o comportamento efetual dos empreendedores? A partir desta questão, traçou-se como objetivo examinar como a identidade pessoal embasa o comportamento efetual dos empreendedores.

A teoria da efetuação (Sarasvathy, 2001) explica que a efetuação é uma lógica do comportamento empreendedor que se baseia em um levantamento que o ator (empreendedor) faz de possíveis efeitos que podem ser gerados usando os meios que possui sob seu controle, incluindo ― quem ele é (identidade), ― quem ele conhece (rede de relação) e ― o que ele sabe (conhecimento). Esse levantamento identifica os objetivos e possíveis ações que, no entendimento do ator, não ultrapassam um máximo de uma perda que pode suportar (perda tolerável). Esse processo tem um nome característico: comportamento efetual.

A pesquisa é qualitativa indutiva cuja coleta de dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas com estudo de casos múltiplos. A análise de conteúdo foi feita com apoio do software Atlas.ti (2020). A abordagem interpretativista e narrativa objetivou identificar estratégias de construção, reforço ou dinâmicas da teoria a partir dos casos estudados. A exploração envolveu a investigação aprofundada dos casos para se identificar as construções teóricas por meio de evidências empíricas, sendo que os achados foram apontados nos quadros resumo para análise na seção de discussão dos resultados.

Destaca-se com maior evidência que a identidade pessoal dos empreendedores está na base do comportamento adotado, seja ele efetual ou causal. Fica evidente que a identidade influencia o comportamento efetual, mas também afeta aqueles indivíduos com comportamento planejado (causal). Evidenciou-se uma tendência para os empreendedores remeterem a aspectos de sua identidade como indicativos das razões iniciais para a escolha do tipo do empreendimento a ser criado, o que reflete no nível de risco que aceitam e o tipo de comportamento que adotam, frequentemente motivados por suas identidades.

A identidade é uma construção histórica, dinâmica, em parte cumulativa, em parte renovável, que faz nascer o comportamento efetual em certos casos. A identidade pessoal revela um indivíduo sonhador que é movido a manter-se em um negócio relativamente pequeno, mas prazeroso, mas há casos em que a identidade move o indivíduo a ser planejador. Quanto mais paixão o empreendedor tem por suas atividades empreendedoras, maior tende a ser a mescla entre aspectos pessoais e profissionais em seu trabalho, tornando a jornada empreendedora uma jornada também de autoconhecimento e de realização pessoal.

Cannatelli, B.; Pedrini, M.; Braun, M. (2019). Individual-level antecedents of the entrepreneurial approach: the role of different types of passion in the Italian craft brewing industry. International Entrepreneurship and Management Journal. Nielsen, S. L., & Lassen, A. H. (2012). Identity in entrepreneurship effectuation theory: a supplementary framework. International Entrepreneurship and Management Journal. Sarasvathy, S. D. (2001). Causation and effectuation: Toward a theoretical shift from economic inevitability to entrepreneurial contingency. Academy of management Review.