Trabalho de Mulheres na Pandemia,
Trabalho remunerado
Trabalho não remunerado
Área
Ensino e Pesquisa em Administração
Tema
Ambientes de ensino-aprendizagem
Autores
Nome
1 - Talyta Raffaela Barbosa de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Campus I
2 - Lucimeiry Batista da Silva Rabay UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Reumo
A pandemia de Covid 19 afetou a rotina e mudou o modus operandi dos setores do mercado de trabalho e os grupos já vulneráveis foram os mais atingidos, como é o caso das mulheres. As mudanças no trabalho não remunerado, leia-se afazeres doméstico, historicamente atribuídos à mulher, provocaram sobrecarga mental e física, afetando o desempenho do trabalho remunerado das mulheres (DORNA, 2021). Em função de grande parte das empresas em funcionamento ter adotado o trabalho em domicílio (teletrabalho, trabalho remoto e trabalho à distância) como uma medida para lidar com a situação pandêmica.
Durante a pandemia, como pesquisadoras sobre gênero, muitas inquietações nos rondaram, tais como: até que ponto a pandemia afetou a rotina das mulheres? Qual foi o impacto no desempenho do trabalho remunerado das mulheres? As relações em casa melhoraram ou pioraram? O trabalho remunerado está sendo realizado da mesma forma? Estas questões nos levaram à questão de pesquisa: como a pandemia, iniciada em 2020, impactou o trabalho de mulheres? Buscando solucioná-la, realizamos este estudo com o objetivo de compreender como a pandemia impactou as experiências de mulheres no mercado de trabalho.
A condição feminina é articulada histórica e socialmente, tendo a divisão sexual do trabalho como alicerce para a divisão do trabalho social entre os sexos (HIRATA e KERGOAT, 2007), um fator prioritário para a sobrevivência do sistema de exploração patriarcal, que designa a esfera produtiva (econômica) aos homens e a esfera reprodutiva (não econômica) às mulheres, essa distinção rege o sistema. É possível que no trabalho remoto, as mulheres tenham sido mais afetadas, pelo aumento das tarefas domésticas e de cuidados, destinando mais tempo e esforço para conciliar vida familiar e profissional.
Pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, envolve a abordagem interpretativa dos fenômenos em termos dos significados que as pessoas conferem a eles. Foram entrevistadas, por meio de roteiro semiestruturado, dez mulheres (nomes fictícios) ativas no mercado de trabalho do setor privado e/ou autônomas, da região Nordeste (seis) e Sudeste (quatro), selecionadas por disponibilidade e indicação, priorizando a diversidade. A partir dos relatos, para interpretar os dados foi utilizada a análise do discurso (transcrição, leitura, releitura, codificação e categorização).
Os resultados envolvem perdas de oportunidades, impactos negativos no desempenho do trabalho remunerado, rede de apoio familiar, existente (ou não) e o aumento na sobrecarga de trabalho não remunerado, principalmente, para a faixa etária acima de 36 anos. No trabalho remunerado, outros fatores foram impactantes, como: as mudanças na forma de executar as atividades da função e a difícil conciliação trabalho-família, com as alterações na rotina. Em termos pessoais, a sobrecarga emocional e o cansaço físico e mental foram fatores cruciais no contexto geral da vida das entrevistadas.
Concluímos que o impacto no desempenho laboral não foi apenas devido à sobrecarga de tarefas domésticas, outros fatores, como: mudança na forma de executar as atividades, alteração da rotina e diminuição do ritmo que estavam acostumadas, também influenciaram. Isso não quer dizer que as tarefas domésticas não sobrecarregaram. Em alguns casos, foi evidenciada a alteração em quem executa a ação, transferindo a responsabilidade dos afazeres domésticos em direção à outras figuras femininas, como a mãe e, para mulheres com condições financeiras, a delegação para diaristas e/ou empregadas domésticas.
DORNA, L. B. H. O trabalho doméstico não remunerado de mães na pandemia da COVID-19: mudanças e permanências. Laboreal, Porto, v. 17, n. 1, jun. 2021. Disponível em http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-52372021000100005&lng=pt&nrm=iso. Acessos em 05 nov.2021
HIRATA, H.; KERGOAT, D. Novas Configurações da Divisão Sexual do Trabalho. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 132, p. 595-609, dez. 2007. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S0100-15742007000300005>. Acesso em: 04 nov. 2021.