Resumo

A intensificação do trabalho docente, especialmente quando se considera o contexto da educação básica, é uma realidade discutida por vários estudiosos. Considerando-se a ampliação dos papéis atribuídos ao professor nas últimas décadas, variáveis como conflito, ambiguidade e sobrecarga de papéis tendem a emergir como estressores que configuram risco psicossocial nesse contexto, podendo trazer desdobramentos para o bem-estar desses trabalhadores.

Reunindo algumas variáveis que emergem a partir da contextualização introdutória e buscando compreender a dinâmica que se estabelece entre as mesmas, desenhou-se o objetivo do presente estudo, que se propôs a examinar relações múltiplas entre papéis na organização, conflito trabalho-família, satisfação laboral, saúde mental e comprometimento organizacional afetivo entre docentes atuantes na educação básica pública, ofertada pela rede estadual de ensino na região Sul de Minas Gerais.

Os estressores de papel tendem a se relacionar à ocorrência de transtornos mentais e à diminuição da satisfação no trabalho (Jex, 2005; Beehr & Glazer, 2005). Além disso, costumam se associar a atitudes indesejáveis em relação ao trabalho e à organização (Ortqvist & Wincent, 2006), afetando os níveis de comprometimento organizacional afetivo (Meyer, Stanley, Herscovitch, & Topolnytsky, 2002). No que tange ao conflito trabalho-família, a literatura mostra que também tende a se mostrar como preditor de transtornos mentais e de insatisfação laboral (Eby et al., 2005; Figueiroa et al., 2020)

Estudo de corte transversal junto a amostra não probabilística por acessibilidade de 452 docentes. Para o levantamento de dados foram utilizados alguns itens da Escala para Avaliação de Estressores Psicossociais no Contexto Laboral, o QSG-12, a Escala de Satisfação Geral no Trabalho, Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo em sua versão reduzida e formulário sociodemográfico. As análises envolveram estatísticas descritivas e modelagem de equações estruturais.

Efeitos diretos do conflito e ambiguidade de papéis em relação à satisfação laboral, aos TMC e ao comprometimento organizacional afetivo foram observados, bem como efeitos indiretos sobre essas duas últimas variáveis com a mediação da satisfação laboral. Quanto à sobrecarga de papéis, seus efeitos diretos foram observados apenas sobre a satisfação laboral e os indiretos com relação a essa última e as demais variáveis envolvidas, com uma complexa rede de mediações que envolveu as variáveis conflito trabalho-família, satisfação laboral e TMC em relação ao comprometimento afetivo.

O presente estudo contribuiu para elucidar relações de múltiplos antecedentes com o comprometimento afetivo, trazendo elementos que auxiliam a explicação desse tipo desse vínculo, o qual, nas palavras de Mowday et al. (1979) compreende uma relação ativa na qual o indivíduo deseja contribuir em favor do bem-estar da organização. Trazendo essas considerações para o contexto das escolas, cumpre refletir a partir do cenário da educação pública nacional e dos resultados aqui encontrados, em que medida as instituições escolares estão oferecendo condições para o fortalecimento desse tipo de vínculo.

Beehr, T. A., & Glazer, S. (2005). Organizational roles. In J. Barling, E. K. Kelloway, & M. R. Frone, (Eds.), Handbook of work stress. Thousand Oaks: Sage. Eby, L., Casper, W., Lockwood, A., Bourdeaux, C., & Brinley, A. (2005). Work and family research in IO/OB: cContent analysis and review of the literature (1980–2002). Journal of Vocational Behavior, 66, 124–197. Meyer, J. P., Stanley, D. J., Herscovitch, L., & Topolnytsky, L. (2002). Affective, continuance, and normative commitment to the organization: A Meta-analysis of antecedents, correlates, and consequences. Journal of Vocational Beha