Resumo

Título do Artigo

GESTÃO ALGORÍTMICA NAS PLATAFORMAS DIGITAIS DE TRABALHO: forjando transparência, adequando comportamentos, (re)produzindo injustiças
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Palavras Chave

Gestão algorítmica
Gig economy
Relações de trabalho

Área

Gestão de Pessoas

Tema

Políticas, Modelos e Práticas de Gestão de Pessoas

Autores

Nome
1 - Rodrigo de Campos Rezende
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA - São Paulo
2 - Geraldo Tessarini Junior
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária
3 - Wilson Aparecido Costa de Amorim
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA - Administração

Reumo

Uma das mais recentes mudanças no mundo do trabalho foi o surgimento das plataformas digitais, que configuram a chamada gig economy. Um de seus elementos característicos é a ampla utilização da gestão algorítmica. Ela constitui-se em um modelo alternativo de gestão de recursos humanos, na qual os algoritmos assumem as funções gerenciais anteriormente delegadas à figura tradicional do chefe/gestor. Embora crescente, a literatura atual ainda não responde a todas as questões relacionadas a adoção, modo de funcionamento e influências da gestão algorítmica no trabalho.
O artigo tem como objetivo compreender a percepção dos trabalhadores de plataformas digitais acerca da gestão algorítmica de suas atividades. Interessa-nos, especificamente, discutir como essa complexa forma de gestão influencia no cotidiano de trabalho, em especial quanto às dicotomias “transparência vs. opacidade”, e “vigilância vs. autonomia”. Considerando as múltiplas formas de atuação na gig economy, nós focamos nos aplicativos de transporte urbano, pioneiros na área, mais precisamente sobre o trabalho de motoristas da Uber na cidade de São Paulo.
Ao modelo de gestão pautado pela utilização de algoritmos para controle, supervisão e remuneração do trabalho convencionou-se chamar de “gestão algorítmica”, amplamente adotado por plataformas digitais como a Uber. (WOODCOCK; GRAHAM, 2020). No caso da Uber, ela é implementada para maximizar o valor criado pela força de trabalho (KELLOG et al., 2020), moldar significativamente o comportamento dos trabalhadores (BUCHER et al., 2020), além de determinar sua remuneração por meio de aspectos gamificados, como bônus, recompensas e premiações (DUGGAN et al., 2020).
Como método de coleta de dados, foram realizadas oito entrevistas semiestruturadas com motoristas de aplicativos ativos na cidade de São Paulo, no mês de maio de 2022. Tais entrevistas tiveram duração de 30 a 60 minutos. Todos os entrevistados eram homens, entre 28 e 72 anos, com experiência como motorista entre dois e seis anos, e jornada de trabalho declarada entre 15 e 70 horas semanais. Para análise dos dados, utilizamos a técnica de análise de conteúdo categorial temática (Bardin, 2006).
Foram analisadas quatro categorias, que representam as influências da gestão algorítmica no trabalho dos motoristas de plataformas: i) distribuição do trabalho; ii) remuneração; iii) avaliação de desempenho; e iv) vigilância e punição.
Concluímos que a gestão por algoritmos é uma forma peculiar de gestão de recursos humanos que, assentada sob relações de trabalho precarizadas e informais, possui três características essenciais: i) opacidade de suas políticas e práticas, mesmo com tentativas de promover uma forçada e forjada transparência; ii) busca adequar os comportamentos dos trabalhadores aos comportados impostos/desejados pelas empresas-plataforma; e iii) re(produz) desigualdades, injustiças e vieses característicos da sociedade brasileira, fomentando a, cada vez maior, desestruturação do mercado de trabalho.
DUGGAN, J.; SHERMAN, U.; CARBERY, R.; MCDONNELL, A. Algorithmic management and app‐work in the gig economy: A research agenda for employment relations and HRM. Human Resource Management Journal, v. 30, n. 1, p. 114-132, 2020. KELLOG, K. C.; VALENTINE, M. A.; CHRISTIN, A. Algorithms at work: The new contested terrain of control. Academy of Management Annals, v. 14, n. 1, 366–410, 2020. WOOD, A. J.; GRAHAM, M.; LEHDONVIRTA, V.; HJORTH, I. Good Gig, Bad Gig: Autonomy and Algorithmic Control in the Global Gig Economy. Work, Employment and Society, 33(1), 56–75, 2019.