Resumo

O impacto da pandemia de COVID-19 na situação econômica e social no Brasil e no mundo é inquestionável e multifacetado. A pandemia destacou a importância da energia elétrica na ordem social por meio de fechamentos, interrupções na mobilidade e a mudança para modos digitais de trabalho remoto (Rutkowska-Tomaszewska, Łakomiak & Stanisławska, 2022) e criou riscos específicos para o setor, tornando-se fundamental, para sustentar a segurança do abastecimento de energia elétrica, gerenciá-lo de forma eficaz.

Este trabalho, então, investigou a acurácia da avaliação por múltiplos aplicada às empresas brasileiras do setor de energia elétrica, buscando responder a seguinte pergunta: Qual é o poder explicativo dos múltiplos na avaliação de empresas do setor de energia elétrica do Brasil na pandemia de COVID-19? Dessa forma, o objetivo do estudo foi pesquisar o poder preditivo dos múltiplos nesse setor, no ano de 2019, que foi um ano de intenso crescimento da Bolsa, e no ano de 2020, em que a economia foi extremamente afetado pela pandemia do COVID-19.

Cada vez mais discute-se a relevância da avaliação das empresas para outros fins, indo além da análise de investimentos e da gestão de portfólios. Ela é essencial para tratar de assuntos ligados à análise de compra e de venda, às reestruturações societárias, tais como as fusões e os desinvestimentos (Maniar, 2014), para tratar de aspectos legais e tributários e, de acordo com Costa, Costa e Alvim (2011), para fins de planejamento e gestão. Há várias técnicas para fins de avaliação de empresas, sendo a avaliação por múltiplos uma das mais utilizadas (Damodaran, 2007).

A amostra foi composta por 26 empresas do setor de energia elétrica. O período de análise foi os trimestres dos anos de 2018 a 2019. Para efetuar o agrupamento das empresas ditas comparáveis, foi realizada a padronização das variáveis beta, payout, taxa de crescimento, liquidez e receita das companhias extraídas do Economática®. Foi utilizada a função de cluster analysis do STATA e as empresas similares foram agrupadas em 6 grupos, cada um por mais de uma empresa. Foram coletados no Economática® os dados sobre os múltiplos P/L, P/VPA, EV/EBTIDA e EV/Receita para cada uma das firmas.

Através da análise descritiva dos retornos 3, 6 e 9 meses após as divulgações das demonstrações contábeis em 2019 e 3, 6 e 8 meses em 2020, observou-se que os múltiplos P/L e P/VPA foram os que obtiveram melhor performance preditiva. Tal resultado corrobora, parcialmente, com os estudos de Maniar (2014), que investigou os fatores que influenciam os múltiplos de preços na avaliação de empresas da Índia. Segundo ele, entre os modelos estimados, os de P/L foram os que apresentaram os melhores resultados. Ainda assim, de março a junho de 2020, ambos os múltiplos não conseguiram prever os retornos.

Os múltiplos P/L e P/VPA foram os que apresentaram maior poder preditivo para as empresas de energia elétrica no período analisado. Para o múltiplo P/L, o resultado pode ser explicado pela natureza das operações das empresas de energia elétrica, já que, de forma semelhante aos bancos, estas detêm maior volume de ativos e passivos financeiros enquanto que as empresas, em geral, dispõem de alta imobilização dos ativos e depreciação. Para o múltiplo P/VPA, o resultado pode ser reflexo dos impactos da deterioração da atividade econômica e dos desafios postos ao modelo regulatório do setor.

Damodaran, A. (2007). Avaliação de Empresas (2ª ed.). São Paulo: Pearson Prentice Hall. Forti, C. A., Peixoto, F. M., & Santiago, W. d. (set-dez de 2009). Hiótese da Eficiência de Mercado: Um estudo exploratório no mercado de capitais brasileiro. Gestão & Regionalidade, 25(75). multiplos-aplicado-ao-mercado-brasileiro Kanda, W.; Kivimaa, P. (2020). What opportunities could the COVID-19 outbreak offer for sustainability transitions research on electricity and mobility? Energy Research & Social Science, 68, 101666.