1 - Bruno Henrique Pais Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
2 - Maria Beatriz Rodrigues UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
Reumo
O ensaio procura realizar uma interlocução entre as concepções teóricas de carreira e os conceitos de múltiplas juventudes e interseccionalidade, apontando quais são os elementos oferecidos pelas bases teóricas que podem contribuir para o debate posto. Na busca de se distanciar de teorias e modelos que buscam definir as juventudes de forma homogênea, compreende-se que o conceito de Interseccionalidade (CRENSHAW, 1989) se apresenta como uma ferramenta analítica e política capaz de abraçar a realidade das múltiplas juventudes brasileiras.
No exercício de refletir as temáticas propostas deste ensaio, alguns pontos emergiram: É possível reduzir as múltiplas juventudes a partir de um recorte geracional homogêneo? O discurso geracional e as carreiras com enfoque na agência individual se complementam? De que maneira os marcadores sociais da diferença influenciam e impactam no trabalho e na construção das carreiras das juventudes brasileira?
O argumento deste ensaio é de que as concepções teóricas sobre carreira interacionista (HUGHES, 1937) e das carreiras em contextos (MAYRHOFER et al., 2007), a partir de seus elementos que oferecem uma análise história, temporal, contextualizada (social e cultural) somada à análise do conceito de interseccionalidade social, política e organizacional (CRESHAW, 2002; ACKER, 2012) permitem contemplar uma investigação sobre as múltiplas juventudes (PAIS, 1990; GROPPO, 2010) brasileiras.
As carreiras em contexto, apresentadas por Mayrhofer et al. (2012) apontam os aspectos relativos às carreiras em quatro contextos (trabalho, origem, social e cultural e global) que vão impactar direta ou indiretamente as trajetórias individuais. Percebe-se que, somadas a ferramenta analítica e política da Interseccionalidade (CRENSHAW, 2002; ACKER, 2006) o modelo proposto por Mayrhofer et al. (2012) dialoga com a discussão sobre diferença e desigualdade, estabelecida pelos marcadores sociais da diferença. Essa discussão se alinha com a das múltiplas juventudes em sua heterogeneidade.
Ao levar em consideração as diversas condições que perpassam as trajetórias juvenis, evidenciou-se a importância de realizar uma reflexão acerca da diversidade existente entre as juventudes, apontando de que maneira os fatores contextuais influenciam a construção de suas trajetórias individuais. As carreiras em contexto apresentadas por Mayrhofer et. al (2007) a partir um olhar interacionista e interdisciplinar, se apresenta como um conceito abrangente capaz de investigar os campos que permeiam as trajetórias e carreiras dos jovens brasileiros.
HUGHES, Everett. Institutional office and the person. American Journal of Sociology, v.43(3), p. 404- 413, 1937.
KLIKSBERG, Bernardo. O contexto da juventude na América Latina e no Caribe: as grandes interrogações. Revista de Administração Pública, v.40, n.5, p.909-42, set/out., 2006.
MAYRHOFER, Wolfgang; MEYER, Michael.; STEYRER, Johannes. Contextual issues in the study of careers. In: INKSON, K; SAVICKAS, M. L. (Org.), Career Studies. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 2012.
PAIS, José. Machado. Culturas juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1993.