1 - Luiz Henrique da Silva UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária
2 - Ana Paula Pereira dos Passos UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ (UNIVALI) - Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA)
3 - Ely Ribeiro Lugoboni Luz UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - Esalq/USP
Reumo
A pandemia do coronavírus erradicou e impactou a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. As equipes brasileiras dos Centros de Atenção Psicossocial, principal porta de entrada para o atendimento de indivíduos em sofrimento mental, enfrentaram obstáculos relativos à deficiência dos serviços de saúde frente à grande demanda populacional. Dentre as respostas aos estressores no ambiente de trabalho, tem-se a síndrome de Burnout, considerada um distúrbio emocional, que coloca em risco a saúde e o bem-estar dos profissionais.
As discussões sobre os efeitos da pandemia na saúde mental dos profissionais de saúde ainda se apresentam incipientes e a mensuração da síndrome de Burnout no contexto da pandemia de Covid-19 têm gerado interesse dos pesquisadores sobre o tema. Nessa linha, Yilsirim e Solmaz (2022) propuseram uma escala para mensurar os níveis de Burnout associados ao Covid-19, denominada COVID-19 Burnout Scale. Assim, este estudo consistiu na tradução, adaptação transcultural e validação da escala COVID-19-BS para língua portuguesa brasileira.
A síndrome de Burnout é uma resposta psicológica aos estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho, refere-se à experiência de fadiga por longos períodos e níveis reduzidos de motivação e interesse no trabalho, que levam à menor produtividade e insatisfação laboral. Portanto, na pandemia de Covid-19 observou-se que os profissionais da área da saúde não foram afetados da mesma maneira e que o impacto psicológico ocasionado durante a pandemia é amplo, substancial e pode ser duradouro.
Para tradução e adaptação da escala, utilizamos os protocolos propostos por Pasquali (1999) com as seguintes etapas: tradução, retradução, análise semântica e pré-teste. Além disso, para sua validação aplicamos a versão final da escala com 270 profissionais que atuaram nos CAPS durante a pandemia. Na análise dos dados, utilizamos uma Análise Fatorial Exploratória para verificar as cargas fatoriais dos itens e realizamos uma análise descritiva dos dados demográficos e dos itens mensurados, além de determinarmos se havia alguma diferença entre as médias dos níveis de distintos grupos.
Os resultados indicaram a validade da escala quanto à sua clareza, alta confiabilidade e consistência interna, apresentando qualidades psicométricas adequadas para mensuração da síndrome durante crises. Quanto à validação, revelaram-se altos índices de Burnout para os profissionais de saúde mental, em que as causas encontradas foram os sentimentos de cansaço, indefesa, prisão e doentio. As análises de grupo mostraram que mulheres, jovens, técnicos/auxiliares de enfermagem, com ensino médio e 1 a 5 anos de tempo de serviço obtiveram os maiores níveis de Burnout durante a pandemia.
A escala na versão brasileira, denominada EB-COVID-19, foi analisada e testada empiricamente com profissionais de saúde e demonstrou validade quanto à sua clareza, alta confiabilidade e consistência interna, evidenciados pelos seus coeficientes e cargas fatoriais. As características psicométricas da EB-COVID-19 apresentaram resultados semelhantes a versão original da escala COVID-19-BS desenvolvida por Yildirim e Solmaz (2022), indicando a validade da tradução. Assim, a versão traduzida e adaptada mostrou ser válida para a mensuração do Burnout na pandemia de Covid-19 à realidade brasileira.
Pasquali, L. (1999). Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração. Brasília: LabPAM/IBAPP.
Yildirim, M., & Solmaz, F. (2022). COVID-19 burnout, COVID-19 stress and resilience: Initial psychometric properties of COVID-19 Burnout Scale. Death Studies, 46(3), 524-532.