Resumo

Um dos desafios centrais da maternidade consiste em conciliar os múltiplos papéis demandados às mães, em especial àquelas que investem esforços nos estudos em busca de formação profissional. Algumas dessas mulheres acabam por fazer parte das estatísticas sobre evasão ou demissão no mercado de trabalho pós-maternidade, além dos desafios enfrentados na inserção e/ou permanência no ensino superior.

O presente estudo buscou compreender a relação entre maternidade, ambiente universitário e mercado de trabalho a partir da vivência de mães discentes de uma universidade pública. Buscou-se entender a mudança de dinâmica na vivência de mães que já se encontravam no Ensino Superior; identificar a relação entre a maternidade e a vivência acadêmica; caracterizar a relação entre a maternidade e a inserção ou manutenção no mercado de trabalho; além de descrever as expectativas das mães discentes sobre o futuro no mercado de trabalho.

A base teórica que sustenta a pesquisa se deu sobre questões de gênero e o papel da mulher na sociedade, a partir de discussões sobre dupla jornada (maternidade e trabalho); rede de apoio; assimetria entre os gêneros frente aos desafios e exigências impostas no mercado de trabalho (GUIGINSKI; WAJNMAN, 2019); e, por fim, a tripla jornada: o ensino superior como uma válvula de escape frente as dificuldades de acesso ao mercado de trabalho (AVILA; PORTES, 2012).

A pesquisa foi conduzida a partir de abordagem qualitativa, mediante entrevistas guiadas por roteiro semiestruturado com 22 estudantes da Universidade Federal de Viçosa – MG. Os relatos coletados foram trabalhados mediante análise de conteúdo, utilizando-se de análise temática, com categorias definidas a priori: maternidade e estudos; maternidade e instituição de ensino; maternidade, estudos e mercado de trabalho; perspectivas sobre o futuro no mercado de trabalho. As entrevistas foram transcritas e codificadas. Chegou-se a 56 códigos, que foram agrupados em subcategorias.

Segundo as discentes entrevistadas, tanto o trabalho quanto os estudos são viabilizados quando se tem uma rede de apoio adequada. As estudantes se depararam com adversidades nos dois âmbitos, vivenciando uma rotina desafiadora, acumulando algumas experiências negativas e falta de oportunidades de ascensão profissional. Além disso, também mencionaram como a estrutura física deixa a desejar no que tange ao acolhimento de crianças na IES e no mercado de trabalho. Por fim, as entrevistadas citaram ainda ocorrências de discriminação, de falta de empatia, e de sobrecarga em suas rotinas diárias.

As análises possibilitaram identificar carência de apoio institucional e de ambiente adequados às necessidades das mães tanto no âmbito universitário quando no profissional. Tal fato intensifica o desgaste sobre as mães discentes e restringe suas possibilidades de atuação nos contextos educacionais e de trabalho, principalmente quando a rede pessoal de apoio é inexistente ou insuficiente, o que pode acarretar na interrupção ou abandono do curso.

ADELMAN, M.; e SILVESTRIN, C. B. Coletânea Gênero Plural.. Editora UFPR. Curitiba: Editora UFPR, 2002. AVILA, R. C.; PORTES, É. A. A tríplice jornada de mulheres pobres na universidade pública: trabalho doméstico, trabalho remunerado e estudos. Rev. Estud. Fem., Florianópolis , v. 20, n. 3, p. 809-832, dez. 2012. GUIGINSKI, J.; WAJNMAN, S.. A penalidade pela maternidade: participação e qualidade da inserção no mercado de trabalho das mulheres com filhos. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 36, 2019.