Resumo

Título do Artigo

MIGRANTE E REFUGIADO EMPREENDEDOR (DE SI): MODOS VERNÁCULOS DE TRABALHO IMATERIAL COMO (RE)INVENÇÃO NO PAÍS DE DESTINO
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Palavras Chave

Trabalho Imaterial
Autonomia das Migrações
Refugiado

Área

Gestão de Pessoas

Tema

Temas Emergentes e Modismos em Gestão de Pessoas

Autores

Nome
1 - Laura Alves Scherer
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA - UNIPAMPA (UNIPAMPA) - Campus Santana do Livramento
2 - Carmem Lígia Iochins Grisci
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - PPGA/EA

Reumo

Os fluxos migratórios acompanham a história da humanidade e se configuram como fenômeno misto, complexo e multifacetado, tendo, nos últimos anos, alcançado patamares históricos que continuam em ascensão (UNHCR, 2019). O Brasil tem sido destino de indivíduos que tradicionalmente não migravam para o país, como os migrantes econômicos e refugiados do sul global - africanos, árabes, caribenhos e latinos (BRASIL, 2018). Ambos, ao chegarem em terras estrangeiras têm necessidade de acolhida e de oportunidades de trabalho para recomeçarem suas vidas (SAYAD, 1979; UNHCR, 2019).
Evidenciam-se processos de individuação/serialização de migrantes e refugiados em postos mais precarizados do mercado de trabalho (SAYAD, 1979). Por outro lado, é possível identificar modos de singularização, enxergando além dos estereótipos (DE GENOVA; GARELLI; TAZZIOLI, 2018). Assim, torna-se pertinente a argumentação de que pela via do trabalho imaterial desponta a (re)invenção de modos de viver de migrantes e refugiados no país de destino. Objetivou-se analisar modos de singularização de migrantes e refugiados a partir da criação de atividades laborais na perspectiva do trabalho imaterial.
Toma-se a abordagem teórica da Autonomia das Migrações, que visa os tensionamentos subjetivos dos migrantes e refugiados em busca de (re)invenção e singularização, especialmente relativos ao trabalho (MEZZADRA, 2012). Entende-se o trabalho na perspectiva do trabalho imaterial, compreendendo-o como as atividades corporais, manuais, intelectuais, criativas, afetivas e comunicativas que mobilizam o trabalhador a produzir-se para o trabalho e tornar-se empreendedor de si (GORZ, 2005; GRISCI, 2011; LAZZARATO; NEGRI, 2001).
A cartografia, como método qualitativo, permitiu uma experimentação como flâneur-cartógrafa em Porto Alegre (Brasil), entre 2017 e 2019. Possibilitou a participação-intervenção em um território com 36 eventos-atividades, cinco informantes-chave e 16 migrantes econômicos e refugiados que trabalham com música, dança, alimentação, moda, idioma e representação político-cultural, utilizando referências de seus países de origem (Venezuela, Haiti, Síria, Senegal, Costa do Marfim e Nigéria). Os procedimentos de produção de dados incluem observação-participante, entrevistas e diários de bordo.
Os resultados apontam para três conjuntos de modos vernáculos de criação de trabalho imaterial relativos ao empreendedor de si: atividades artísticas, técnico-manuais e comunicacionais. Seja por oportunidade e/ou por ser a única alternativa viável à sobrevivência, o misto de ser (nacional de certo país), estar (migrante ou refugiado) e ter/produzir (produtos ou serviços simbólicos) (con)formam uma espécie de “capital imaterial” (GORZ, 2005, p. 29) que só passa a existir quando o indivíduo atravessa fronteiras. Tais características produzem diferenciação em termos mercadológicos e sociais.
A mobilização dos migrantes e refugiados em rede de cooperação destaca referências vernáculas e a situação de migração/refúgio, tornando esses indivíduos empreendedores de si. Percebe-se um modo de singularização referente a um novo “mercado de trabalho para migrantes e refugiados”, vinculado ao afeto e à política condizente à tendência hegemônica do trabalho imaterial e à Autonomia das Migrações. Migrantes e refugiados acessam, nas atividades artísticas, técnico-manuais e comunicacionais do trabalho imaterial, outras formas de viver, devires e a (re)invenção de si no país de destino.
GAULEJAC, V. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. Aparecida/São Paulo: Ideias & Letras, 2007. LAZZARATO, M.; NEGRI, A. Trabalho Imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. MEZZADRA, S. Multidão e migrações: a autonomia dos migrantes. ECO-PÓS: Revista do PPG da Escola de Comunicação da UFRJ, Rio de Janeiro, v.15, n.2, p.70-107, 2012. SAYAD, A. Imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: EDUSP, 1979.