Resumo

O Brasil vem apresentando um acréscimo das exportações e internacionalização de suas empresas. Porém, a pauta exportadora ainda é profundamente centrada em commodities, responsáveis por mais de 50%. O cacau é um destes produtos commodities do qual o Brasil é historicamente um importante produtor e exportador. Porém, o sul da Bahia tem investido na produção de um cacau fino e de chocolate, buscando superar o modelo antigo, de mero fornecedor de matéria-prima, caminhando para a verticalização e valorizando uma produção de alto valor agregado.

O lócus da pesquisa se localiza em um país emergente – o Brasil -, com nuances institucionais peculiares e que passa por um processo de transição institucional, a presente pesquisa visa a compreender as influências do ambiente institucional nas estratégias de internacionalização do chocolate Tree to Bar brasileiro originário do sul da Bahia. Dessa forma, possui um problema de pesquisa principal, expresso na pergunta: “Como o ambiente institucional influencia no processo estratégico de internacionalização das empresas produtoras de chocolate Tree to Bar originário do sul da Bahia?”.

Sob a perspectiva do neoinstitucionalismo, Mike Peng analisou a estratégia e os negócios internacionais com um foco em economias emergentes (PENG; WANG; JIANG, 2008). Nessa linha, a visão baseada em instituições foca a interação entre as instituições e as organizações, considerando a escolha estratégica da empresa como resultado dessa relação (PENG, 2002; 2003). A inclusão da dimensão institucional nos estudos de negócios internacionais significa ampliar seu escopo e considerar as dimensões do contexto nacional, cultura, transações governamentais e interações sociais (PENG; KHOURY, 2009).

A pesquisa qualitativa se alinha com o objetivo da pesquisa, que é compreender o fenômeno de uma forma aprofundada. Ademais, se trata de um objeto de estudo cujas análises científicas ainda são incipientes, da internacionalização do chocolate bean e Tree to bar brasileiro, um processo que está começando a se delinear. Para tal, buscou-se dados primários (realizadas 13 entrevistas semiestruturadas com agentes formais institucionais e empresas de chocolate exportadoras) e secundários (documentos). A análise dos dados ocorreu simultânea e posteriormente à coleta, em uma análise de conteúdo.

Percebe-se que muitas escolhas estratégicas de internacionalização das empresas são influenciadas pelo ambiente institucional, como prevê Peng (2002; 2003), seja positivamente ou negativamente. No que tange as instituições formais, observou-se a inexistência de incentivos comerciais e barreiras comerciais para o caso do chocolate Tree to bar. E do campo emergiu as barreiras logísticas. Os arranjos institucionais formais têm uma atuação tímida, porém a Associação Bean to Bar Brasil tem sido mais efetiva. Das instituições informais, destaca-se as redes de relacionamento para internacionalização.

Observou-se que, apesar das falhas dos agentes institucionais formais e de algumas barreiras, como as logísticas e a ausência de incentivos fiscais e financeiros, as empresas tomaram iniciativas de fundar associações próprias e usufruíram de suas próprias redes de relacionamento e comportamentos empreendedores para se internacionalizar. Assim, um ambiente institucional formal desfavorável fez com que encontrassem nas instituições informais maneiras de se beneficiar e promover exportações. Por sua vez, a distância institucional não foi determinante na escolha de mercados-alvo.

NORTH, D. C. Institutions, institutional change, and economic performance. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1990. PENG, M. Towards an Institution-Based View of Business Strategy. Asia Pacific Journal of Management, v. 19, p. 251-267, 2002. ____________. Institutional transitions and strategic choices. Academy of Management Review, 28(2): 275–296, 2003. ____________; WANG, Denis; JIANG, Yi. An institution-based view of international business strategy: a focus on emerging economies. Journal of International Business Studies, p. 920–936, 2008.