Resumo

Uma consulta a base de dados SPELL permitiu identificar 58 artigos produzidos no Brasil sobre realidades organizacionais, sob a lente das representações sociais (RS). Com a primeira produção nessa base datadas de 2001 e a última de 2020, a frequência dos estudos tem mostrado uma certa regularidade, com aproximadamente 50% das publicações veiculadas na última década. A análise dos artigos, mostrou ainda que uma discussão mais aprofundada sobre a importância de analisar as organizações sob o olhar paradigmático das RS parece não ter recebido ainda a atenção dos pesquisadores

Este artigo se propõe a apresentar as diferentes abordagens de RS - a) Interacionista – conceituada por Serge Moscovici; b) Cultural – abordagem introduzida por Denise Jodelet (2015); c) Estruturalista (escola de Aix em Provence), Jean-Claude Abric e os parceiros Flament e Vergès; e d) Societal (escola de Genebra) – Willen Doise. Traz ainda o processo de construção das RS, e por fim, reflexões sobre o potencial e limites das RS no âmbito dos estudos organizacionais.

Moscovici persistiu na ideia da possibilidade de geração do conhecimento científico embasado na concepção do senso comum, e interpretação aos fatos sociais, modificando a concepção da realidade. A RS tem em sua composição elementos que se expressam e comunicam, a exemplo de figuras, imagem e linguagem, a qual pode ser uma representação de alguém ou de algum objeto. As RS são fundamentadas e estruturadas a partir do senso comum, e trazidas de maneira consensual, sendo a forma de compreensão e percepção do indivíduo e objetos. A RS antecede ao comportamento e contribui para moldá-lo e defini-lo.

As RS, independente da abordagem que se considere, trazem para os estudos organizacionais uma perspectiva diferenciada de conhecimento válido, não só por rechaçar o conhecimento em suas perspectivas positivistas, mas por abraçar o conhecimento do senso comum compartilhado. Pouca atenção tem sido dada nos artigos sobre RS a outros estudos prévios sobre o mesmo tema, de forma a poder explorar similaridades e dissimilaridades. Esta possibilidade surge com os estudos de RS na abordagem cultural de Jodelet (2015) e estrutural de Abric (2001)

Estudar organizações enquanto RS possibilita uma nova maneira promissora de compreender as organizações que, se desdobra em possibilidades e contribuições. Nesse sentido, algumas reflexões foram apresentadas que abrem novas avenidas de pesquisa: a) a busca de similaridades e dissimilaridades entre representações sociais sobre o mesmo objeto no mesmo contexto cultural, b) a busca de similaridades e dissimilaridades entre representações sociais sobre o mesmo objeto em contextos culturais diferentes c) o estudo de processos de mudança sob as lentes de RS

ABRINC, J.C. Central system, peripheral system: their functions and roles in the dynamics of social representations. Papers on social representations, v. 2, p. 75-78, 1993 DOISE, W. Atitudes e representações sociais. As representações sociais, p. 187-203, 2001. JODELET, D. Loucuras e representações sociais. Tradução de Lucy Magalhães, título Original Folies et représentations sociales. 2 ed, Petropolis, RJ: Vozes, 2015 MOSCOVICI, Serge. El psicoanálisis, su imagen y su público. Editorial huemul, 1979.