Resumo

As interações entre qualidade de vida no trabalho (QVT) e os vínculos entrincheiramento e comprometimento organizacional são muito pouco exploradas (MILHOME; ROWE; SANTOS, 2018). Especificamente, as relações entre o entrincheiramento e a QVT estabelecem-se como mais uma lacuna a ser investigada (MILHOME; ROWE; SANTOS, 2018). Ademais, embora saiba-se da coexistência dos vínculos e a influência que sofrem das práticas organizacionais (RODRIGUES; BASTOS, 2011; MARIANO; MOSCON, 2018), ainda existe a necessidade de conhecer em que medida ocorre essa influência da QVT em cada vínculo.

Em que medida, a qualidade de vida no trabalho influencia os vínculos do indivíduo com a organização pública – comprometimento organizacional e entrincheiramento organizacional? Desta forma, o objetivo desse estudo consistiu em investigar as possíveis relações entre a qualidade de vida no trabalho e os vínculos comprometimento e entrincheiramento organizacional, no contexto das unidades federais de ensino que serviram como palco para essa pesquisa.

Em termos de gestão, é consensual o entendimento da QVT como a humanização das práticas de trabalho (FERREIRA, 2017). Já os vínculos com a organização, quando ocorrem a partir do desejo e da identificação com objetivos e metas da instituição, entende-se como comprometimento organizacional (RODRIGUES; BASTOS; MOSCON, 2019). Contudo, se essa relação é mantida pela necessidade de permanência no local de trabalho, evitando-se perdas – financeiras, benefícios, investimentos no ajustamento ao cargo, redes de contato - tem-se o entrincheiramento organizacional (RODRIGUES; BASTOS, 2012).

A coleta de dados foi realizada com survey online, que conteve três escalas validadas no Brasil e dados sociodemográficos. Obteve-se a participação de 1060 respondentes, servidores públicos de instituições federais de ensino da região do nordeste brasileiro. O software R (versão 3.6.1) foi utilizado para tratamento e análise dos dados. A validade dos construtos foi avaliada pela dimensionalidade, confiabilidade e validade discriminante. Para avaliar as relações entre os construtos foi utilizada a modelagem de equações estruturais (SEM) com abordagem CB-SEM (Covariance-based SEM).

Os achados revelam influência negativa da dimensão de QVT ‘Uso e desenvolvimento das capacidades’ sobre todas as dimensões de entrincheiramento. Significa que a autonomia no trabalho, a importância que o trabalho tem na vida do indivíduo, a identificação com a tarefa, a capacidade de uso amplo das habilidades do trabalhador e o conhecimento acerca de como avaliam o seu trabalho, diminuem o entrincheiramento organizacional. Esse resultado aponta caminhos para uma gestão que incentive o comprometimento e reduza o entrincheiramento organizacional, a partir da gestão da promoção da QVT.

Os resultados mostram que a qualidade de vida no trabalho influencia o comprometimento e exerce pouca influência no entrincheiramento organizacional, o que reforça a existência de uma relação entre práticas organizacionais e vínculos e torna o investimento em QVT uma boa aposta organizacional para desenvolvimento do vínculo afetivo. Foi encontrada uma forte relação entre o comprometimento organizacional e a imagem institucional, dimensão de QVT. A qualidade de vida no trabalho se mostra promissora para o incentivo a servidores mais comprometidos e menos entrincheirados com a sua organização.

KLEIN, L. L.; PEREIRA, B. A. D.; LEMOS, R. B. Quality of working life: parameters and evaluation in the public service. Revista de Administração Mackenzie, [s.l.], v. 20, n. 3, p.1-35, 2019. KLEIN, H. J.; MOLOY, J. C.; COOPER, J. T; SWANSON, J.C., The assessment of commitment: Advantages of a unidimensional, target-free approach. Journal of Applied Psychology, [s.l.], v. 99, n. 2, p.222-238, 2014. J. P., Meyer (Ed.). Handbook of employee commitment. Massachusetts: Edward Elgar Publishing Limited. 2016.