Resumo

Ações coletivas emergem com base em objetivos comuns de indivíduos/firmas e na percepção desses membros de que a organização coletiva é uma forma de alcançarem seus próprios propósitos. Logo, a interação estratégica dos atores é dependente da ação de cada um dos participantes, de forma que os resultados são também dependentes da atuação de todos (OLSON, 1999; SANDLER, 2004). Essas organizações proporcionam ganhos econômicos, sociais e outros (OLSON, 1999; BRITO, 2001). No campo agroindustrial, são exemplos: cooperativas e associações. Porém, liderança é necessária (OLSON, 1999).

Ao contrário dos amplos estudos sobre a liderança em organização que possuem donos/sócios, o papel da liderança nas ações coletivas ainda é pouco explorado. A maior parte das pesquisas é baseada nos motivos para a sua formação e nos benefícios gerados e não em sua organização interna. Assim, há uma lacuna sobre o conhecimento do papel da liderança na gestão em ações coletivas (EINWOHNER, 2007; PROVAN; KENNIS, 2008; ROTH et al., 2012; TONIN, 2014; LOBO; VÉLEZ; PUERTO, 2016). Logo, qual é o papel da liderança na gestão de ações coletivas?

São abordados conceitos da liderança e, principalmente, o que já se tem escrito sobre a liderança em ações coletivas. Com base em autores, como: Bass (1990), Olson (1999), Alexander et al. (2001) e Lobo, Vélez e Puerto (2016), desenvolve-se um modelo teórico-metodológico para o papel da liderança na gestão de ações coletivas. Esse é composto por: comunicação, motivação, mediação, confiança, inovação, apoio, influência, empoderamento, monitoração/avaliação, incentivos/sansões, regulação/organização, alinhamento dos objetivos individuais e coletivos, identidade coletiva e visão/direcionamento.

É um estudo de campo, multicasos e descritivo. Utilizou-se o modelo teórico-metodológico desenvolvido no próprio estudo para criar e aplicar um questionário para 71 líderes e liderados de uma associação (grupo menor) e de uma cooperativa (grupo maior) agroindustriais da Microrregião de Toledo-PR. Buscou-se saber: a) a opinião dos mesmo sobre o que deve ser atribuição da liderança; b) a percepção deles sobre o que já é exercido pelas lideranças em suas ações coletivas. A análise dos dados ocorreu de maneira descritiva e exploratória, caracterizando-se como um estudo qualitativo e quantitativo.

Obteve-se elevados índices de concordância dos lideres e liderados respondentes sobre o que deve ser papel da liderança, obtendo-se uma relação positiva entre o modelo teórico-metodológico desenvolvido e os dados coletados empiricamente. Todavia, índices mais baixos foram encontrados para a percepção dos respondentes sobre o que já vem sendo exercido pelas lideranças, o que denota lacuna entre o que deve ser papel da liderança e o que é realizado. Sobre a percepção desse exercício, percentuais mais baixos foram encontrados no caso do grupo maior (cooperativa).

O modelo teórico-metodológico desenvolvido mostrou-se aplicável empiricamente, uma vez que líderes e liderados concordam sobre os 14 aspectos do papel da liderança na gestão de ações coletivas. No que tange à prática desses papeis, lideres e liderados não percebem tanto o exercício dessas atribuições, revelando uma lacuna entre o que deveria ser papel e o que é realizado pelas lideranças. Ademais, respondentes do grupo menor percebem mais o exercício dos papeis da liderança, sugerindo desafios para se liderar grupos maiores.

BASS, B. M. From transactional to transformational leadership: learning to share the vision. Organizational Dynamics, v. 18, n. 3, p. 19-31, 1990. LOBO, I. D.; VÉLEZ, M.; PUERTO, S. Leadership, entrepreneurship and collective action: A case study from the Colombian Pacific Region. International Journal of the Commons, v. 10, n. 2, p.982–1012, 2016. OLSON, M. A lógica da ação coletiva: os benefícios públicos e uma teoria dos grupos sociais. Tradução de Fabio Fernandez. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.