Resumo

O setor da saúde tem se tornado mais complexo e competitivo, demandando soluções que não se resumem às intervenções tradicionais. Em cenário de instabilidade, empresas do segmento são chamadas a inovar em todos os processos. Para as farmacêuticas, no entanto, o cenário segue em lenta mudança, repetindo modelos tradicionais de gestão de inovação. Este artigo irá analisar de que maneira a medtech WeCancer se posicionou durante a pandemia de COVID-19 e mapear aprendizados que a indústria farmacêutica pode extrair dos resultados que um modelo de inovação distinto alcança atuando no mesmo contexto.

Em meio à crise provocada pela pandemia de COVID-19, a indústria farmacêutica vê dificuldades recentes se agravando e afetando resultados imediatos e de futuro. Sua atuação é seriamente afetada por mudanças nas relações com os consumidores, nova relação de forças relativas entre stakeholders e baixa adoção de tecnologia. Assim, o setor se vê desafiado a buscar modelos de gestão da inovação que suportem relações duradouras com stakeholders que pressionam em sentidos diferentes. É a oportunidade da chamada inovação “além da molécula”: soluções que ultrapassem o lançamento de novos medicamentos.

Apesar das oportunidades surgidas da movimentação dos stakeholders e das expectativas dos consumidores, o cenário é desafiador para a indústria farmacêutica, pois demanda mudanças profundas na cultura corporativa, ampliando seus modelos de gestão da inovação para desenvolver soluções além da molécula. Desta forma, o objetivo desse trabalho é: considerando o cenário pós-COVID-19, de que maneira a indústria farmacêutica pode extrair aprendizados do modelo organizacional dos novos atores do ambiente de saúde para otimizar seu modelo de gestão de inovação?

Estudo de caso da startup WeCancer que irá relatar como a empresa incorporou inovações ao longo do isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19 para atender às necessidades dos clientes. O caso propõe uma avaliação diferenciada do momento da indústria farmacêutica. Postas as dificuldades do setor, aceleradas pela pandemia, este estudo descreverá de que maneira a interação de um outro modelo organizacional no mesmo cenário, com os mesmos stakeholders, resulta em novas abordagens para gestão da inovação e os aprendizados que a indústria farmacêutica pode obter com esta análise.

A análise preliminar do estudo de caso demonstra, na WeCancer, mobilidade para observar, de maneira holística, oportunidades em toda a jornada do paciente. Esta capacidade, junto à agilidade no desenvolvimento das soluções, faz com que esteja mais apta a intervenções pontuais que impactam o conjunto do tratamento – múltiplas pequenas entregas, de baixo risco, ao invés de um investimento elevado, de longo prazo, como a entrega de um novo medicamento. Também permite que estas soluções se conectem a outras, de natureza diferente, abordagem diferenciada em relação à indústria farmacêutica.

Para a indústria farmacêutica, este trabalho pode servir como ponto de partida para relacionar a base teórica atual com modelos operacionais que se consolidarão pós-COVID: atuação centrada no cliente, investimento no desenvolvimento de cultura digital, novos modelos organizacionais e de inovação e, ainda, uma visão mais ampla da jornada do paciente, como beneficiário das soluções desenvolvidas – sejam medicamentos ou produtos digitais e serviços além da molécula. Também pode ser estudado por outros segmentos que enfrentam desafios parecidos para revisar seus modelos de gestão de inovação.