Resumo

Os valores relativos ao trabalho têm sido discutidos como variáveis que influenciam a gestão de pessoas e o comportamento nas organizações (Cammarosano et al., 2014). Cavazotte et al., (2012) expõem que tais valores podem se diferenciar em função do contexto sociocultural e em função do perfil sociodemográfico. Nesse sentido, as gerações, considerada um fator demográfico, também exercem influência no ambiente de trabalho em virtude de suas características e comportamentos que podem impactar nas dinâmicas de grupo e nos relacionamentos interpessoais (Parry & Urwin, 2011).

A inserção das novas gerações (Y e Z) no ambiente de trabalho representa um dos principais desafios para os gestores, devido as características distintas que essas apresentam em relação a de gerações anteriores (Twenge & Campbell, 2008). Tais características só podem ser compreendidas, a partir das crenças e valores que formam cada geração. Diante disso, o presente estudo busca responder a seguinte questão de pesquisa: Quais as diferenças de valores relativos ao trabalho de estudantes do stricto sensu em contabilidade das gerações Y e Z considerando as características sociodemográficas?

Estudos sobre os valores do trabalho buscam compreender o que é considerado significativamente importante para o indivíduo no ambiente de trabalho (Porto & Tamayo, 2008). Os valores são utilizados para explicar as mudanças na sociedade, analisar condutas e caracterizar grupos (Porto & Tamayo, 2003).Considerando que os indivíduos de uma mesma geração constituem um grupo que nasceram na mesma época e possuem características e experiências comuns, conjectura-se que, tais experiências podem afetar seus valores, crenças, e comportamentos na vida e no ambiente de trabalho (Hajdu & Sik, 2018).

O estudo caracteriza-se como descritivo com abordagem quantitativa. A coleta dos dados foi realizada por meio de survey. O instrumento foi constituído de duas seções: (I) Escala Revisada de Valores Relativos ao Trabalho (EVT-R) e; (II) Caracterização do respondente. A Análise Fatorial Exploratória (AFE) foi empregada com o intuito de verificar a formação dos fatores provenientes da EVT-R. Em virtude da não normalidade dos dados, o teste de Kruskal-Wallis (K-W) foi utilizado para verificar se existem diferenças entre os valores do trabalho dos respondentes e a variáveis sociodemográficas.

A Análise Fatorial Exploratória resultou na formação de sete fatores, que juntos explicam 68,81% da variância total explicada. Os resultados mostram que estudantes da geração Z atribuíram maior importância aos valores associados ao sucesso profissional e satisfação no trabalho, os quais compõem o fator “Realização”, em comparação aos estudantes da geração Y. Igualmente, foram encontradas diferenças entre os grupos que compuseram as variáveis “gênero”, “responsabilidade financeira em casa”, “experiência docente”, “nível de escolaridade da figura materna” entre outros.

Os resultados demostraram que as variáveis sociodemográficas causam variações significativas nos valores do trabalho das gerações Y e Z. A constatação dessas diferenças revela o quanto o ambiente de trabalho é diversificado e como as vivências de vida de cada um impactam seus valores trabalho. Complementarmente, os resultados também lançam luz à discussão de como as pessoas adaptam seus valores às circunstâncias de vida. Estudos sobre os valores do trabalho no Stricto Sensu possibilita a discussão entre os próprios indivíduos sobre suas escolhas, carreiras, motivações e interesses.

Cammarosano, M., Santos, F. C. A., & Rojas, F. A. (2014). Valores relativos ao trabalho de pesquisadores em uma organização brasileira. RAE-Revista de Administração de Empresas, 54(4), 445-457. Hajdu, G., & Sik, E. (2018). Age, Period, and Cohort Differences in Work Centrality and Work Values. Societies, 8(1), 11. Porto, J. B., & Tamayo, A. (2003). Escala de valores relativos ao trabalho: EVT. Psicologia: teoria e pesquisa, 19(2), 145-152. Porto, J. B., & Pilati, R. (2010). Escala Revisada de Valores Relativos ao Trabalho--EVT-R. Psicologia: Reflexão e Critica, 23(1), 73-82.